Mistério sobre o rei que nunca reinou Luís XVII

Mistério sobre o rei que nunca reinou Luís XVII

Tempo de leitura: 12 minutos

O Mistério sobre o rei que nunca reinou Luís XVII é uma história extraordinária até hoje estudada, comentada, e discutida por historiadores, professores e pesquisadores em busca da verdade sobre sua morte e destino.

Luís-Carlos da França (1785-1795 ou ?), após a morte de seu pai Luís XVI (na guilhotina) foi reconhecido em 21 de janeiro de 1793, pela corte europeia como sendo o novo rei da França pelo nome de Luís XVII.

Mistério sobre o rei que nunca reinou Luís XVII
Prisão-Torre do Templo em Paris. Imagem 3D.

Após a queda da monarquia e a tentativa frustrada de fuga da família real para Áustria todos acabaram aprisionados, em 13 de agosto de 1792, na Torre do Templo, em Paris.

Em 1808, sobre ordens do imperador Napoleão Bonaparte I (1804-1814/1815) a Prisão-Templo foi destruída evitando assim que o local tornasse um ponto de reuniões e peregrinagem dos resistentes monarquistas. Local que se encontra hoje, a Mairie (Prefeitura), do 3° distrito e a praça “Square du Temple”.

Luís-Carlos, (ou Luís XVII) teve a guarda confiado a um casal de republicanos, Simon e Marie-Jeanne Aladame para ser cuidado e protegido, até o dia 05 de janeiro de 1794. Depois desta data, o destino deste rei e seu possível desaparecimento se tornou um mistério.

Versão oficial da época:

Um ano e seis meses depois, segundo a versão oficial do novo poder no governo, (Convenção Nacional), Luís XVII morreu aos 10 anos, em 08 de junho de 1795, por maus-tratos e tuberculose, autopsiado pelo Doutor Philippe-Jean Pelettan (1747-1829) e mais três colegas.

Mistério sobre o rei que nunca reinou Luís XVII
Lápida comemorativa em um dos supostos locais da tumba de Luís XVII. Cemitério Sainte-Marguerite, em Paris.

Foi enterrado numa cova comum, em 10 de junho de 1795 no cemitério Sainte-Marguerite, em Paris. Documentos averbados por autoridades e oficiais da justiça da época atestam esta versão oficial.

O cemitério se encontrava ao lado da atual igreja Sainte-Marguerite, n° 36 rue Saint Benard, no 11° distrito, Paris.

Surpresa nas duas exumações:

A 1° exumação foi feita em 1846, por ordens do rei Luís-Filipe de Orleans pois pensava em transferi-lo do cemitério Sainte-Marguerite para a Catedral de Saint-Denis, junto aos seus pais, Luís XVI e Maria Antonieta.

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Em 5 de junho de 1894, vários especialistas examinaram ossos por eles atribuídos a Luís XVII (já exumados em 1846) e constataram que o crânio era de um sujeito do sexo masculino com mais de 16 anos. Foto: Wikipédia Commons.

Após análises feitas nos restos mortais, para surpresa de todos era de um jovem adolescente de 15 a 18 anos, e não de um menino de 10 anos como esperavam encontrar.

Uma 2° exumação feita em 1894 por vários especialistas concluíram a mesma afirmação da 1°, que se tratava de um jovem de 16 anos.

Versão oficial :

Uma das versões publicadas mais tarde em revistas e jornais da época explica que seis dias depois que o casal Simon e Marie-Jeanne deixarem a prisão, o menino rei Luís XVII morreu de tuberculose em 11 de janeiro de 1794.

Os republicanos ao saberem da morte (ou do desaparecimento) de Luís XVII da prisão para evitar um escândalo com os monarquistas (que ainda lutavam para a continuação do absolutismo) resolveram substituir o rei falecido em 1794, por um garoto de rua deficiente ou segundo uma outra versão, menos improvável, pelo filho bastardo de Maria Antonieta com o amante Hans Axel von Fersen. Menino esse que se encontrava internado em um hospital da cidade.

E foi esse jovem, sem nome que morreu tempo depois, na prisão na Torre do Templo, em 08 de junho de 1795.

Um “rei” enterrado confirmado por um médico.

Philippe-Jean Pelettan
Doutor Philippe-Jean Pelettan (1747-1829).

No dia da morte oficial, o doutor Philippe-Jean Pelettan (1747-1829), professor principal da Escola de Medicina, (“l’Ecole de Santé”), membro do partido revolucionário, médico respeitado e renomado por ter confirmado a morte do político Marat foi chamado para fazer a autopsia da morte do jovem sem nome, como sendo efetivamente Luís XVII.

Preservando a imagem do 1° governo republicano instalando no poder, na França.

E assim sendo, um possível falso rei Luís XVII foi enterrado no cemitério Sainte-Marguerite.

E quanto ao verdadeiro, pouco se sabe, mas uma das hipóteses é que foi resgatado e levado para um outro país ou enterrado em 1794, em algum cemitério, nos arredores de Paris ou mesmo no cemitério Sainte-Marguerite.

As teses de fuga.

Uma versão de fuga que pode ter acontecido em janeiro de 1794 foi que o casal Antoine Simon e Marie-Jeanne, com ajuda e cumplicidade dos republicanos fugiram com o garoto para Portugal.

“Capet lève-toi” (1838) de Émile Mascré (1813-?). Museu da Revolução Francesa, em Vizille, França.

A idéia era proteger e usar o garoto, como moeda de troca, caso fosse obrigados a fazerem uma negociação com os monarquistas que ainda lutavam pela volta do absolutismo. Esconderam então, o menino dentro de um cesto de roupas sujas trocando-o por um garoto de rua, mais velho e doente, fugiram para Portugal.

Simon e Marie Jeanne
Luís XVII, Simon e Marie-Jeanne.

Enquanto Simon distribua rodadas de vinho para adormecer os guardas do Templo, sua esposa Marie-Jeanne saia discretamente com a cesta, diretamente para uma charrete conduzido por um homem chamado “Ojardias”, (anagrama de Jairo Dias, nobre maçon-português, sobrinho do cardeal de Rohan), com destino ao Portugal.

Esta história foi confirmada por escrito por quatro irmãs da ordem de São Vicente de Paula, em Paris, que conviveram com Marie-Jeanne no período de 1810 a 1819.

O verdadeiro Luis XVII passou pela Bretanha, Ilha de São Miguel, Ilha dos Açores e chegando em Portugal foi hospedado por uma família em Alentejo.

Mais tarde, aos 18 anos casou-se com uma espanhola de nome de Vasconcelos. Após uma acordo assinado no Paço Ducal de Vila Viçosa (dos reis Bragança) recebeu a proteção do rei Dom João VI (1767-1826) alguns bens e terras consideráveis. Deixou herdeiros na atual cidade de Borba, registrados com o sobrenome de “Capetos”, como era chamados os reis Bourbon, da França.

A outra tese de fuga de Luís XVII foi encontrada em Londres, na “The British Library“, onde são conservados os documentos do serviço secreto britânico, que diz que entre 23 e 24 de maio de 1794Robespierre fugiu com o garoto do Templo com objetivo de usá-lo numa possível negociação de paz com a Áustria ou com outro país inimigo da França.

Seu destino primeiramente foi levá-lo a Meudon e terminado em Portugal.

Um desconhecido na prisão:

No lugar do Luís XVII ficou um jovem, sem nome, doente, abandonado e isolado numa cela perdida no alto da Torre do Templo. E principalmente sem contato com ninguém.

A partir de 25 de maio de 1794, estranhamente todos os antigos guardas que conheciam ou tiverem contato com Luís XVII foram dispensados.

Com medo que a fuga fosse descoberta, Robespierre (1758-1794) ordenou também que todos os dias fosse trocada a guarda da cela do prisioneiro e que cada homem escalado fosse guarda somente um vez por ano e proibido contato direto com o prisioneiro, caso contrário riscava ser enviado a guilhotina, acusado de apoio a monarquia.

Ou seja, tudo bem planejado para esconder a verdadeira identidade do menino que ficou no Templo e o destino de Luís XVII.

Antoine Simon foi considerado fora da lei por e Robespierre condenado por tirania foram guilhotinados no mesmo dia, em 28 de julho de 1794, e os segredos deles foram perdidos.

De quem é o coração retirado no dia 8 de junho de 1795?

Uma coisa certa que aconteceu em 8 de junho de 1795 foi que o Dr. Pelettan durante a autópsia do menino falecido, se aproveitou da sua posição de chefe e principal médico da República retirou o coração do rei-menino (ou do seu substituto) para conservá-lo em sua casa como uma recordação deste momento histórico.

Após a coleta, chegando em casa colocou-o num vaso de cristal repleto de vinho e água, e o escondeu na sua biblioteca, atrás de alguns livros.

O álcool evaporado restou um coração ressecado, duro como uma pedra e bem conservado.

Em 1810, o Dr. Pelettan foi roubado por um dos seus estudantes, Jean-Henri Tillos, que tempo depois doente pela tuberculose e já no leito de morte confessou o crime a sua esposa pedindo-a que devolvesse o coração ao professor. E foi o que ela fez.

Após várias tentativas fracassados de restituição para família real, o Dr. Pelettan acabou entregando o coração no dia 13 de maio de 1823 para o Arcebispo de Paris, Monseigneur Quélen (1778-1839), que o repassou o vaso de cristal para outros guardiões até ser depositado em 1975, na urna da cripta da Basílica de Saint-Denis, onde tradicionalmente repousam os reis da França.

Fim do mistério e início de outros.

O mistério parecia que tinha chegado ao fim em 20 de abril de 2000 quando saiu o resultado das análises de ADN do fragmento do coração que estava na urna da Basílica de Saint-Denis onde foram comparadas com mechas dos autênticos cabelos da rainha Maria Antonieta (1755-1793) de duas de suas irmãs e dois dos atuais descendentes da rainha.

Coração de Luís XVII

Foi comprovado por especialistas, que o coração retirado no Templo e tão bem guardado pelo Dr. Pelettan era de um descendente de Maria Antonieta.

Mas somente dela, visto que não tinham material suficiente para traçar a ADN de Luís XVI (1754-1793).

Muitos descendentes dos Bourbons e amantes da Monarquia comemoraram esse resultado como sendo mesmo o coração de Luís XVII e que todas as outras histórias eram falsas e imaginação das pessoas.

Controversas sobre o resultado:

Existem controvérsias interessantes, pois Luís XVII teve um irmão mais velho chamado Luís José da França (1781-1789) falecido nas vésperas da revolução francesa, aos 7 anos de idade, em 4 de junho 1789.

Luís José da França (1781-1789), por J. Fabien Gautier d’Agoty.

Alguns historiadores afirmam que o Dr. Pelettan por alguma razão desconhecida, sabendo que o corpo do menino enterrado no cemitério Sainte-Marguerite não era mesmo do rei Luís XVII conseguiu comprar por intermédio de um revolucionário, o coração do irmão mais velho Luis José de França (1781-1789) depositado na urna real da Igreja Val-de-Grâce, em Paris, e não na Basílica de Saint-Denis.

Na época que a guilhotina corria solta pela cidade, um verdadeiro coração real poderia ajudá-lo a provar que autópsia foi feito no verdadeiro Luis XVII.

Essas profanações revolucionarias quando não eram jogadas em fossas comuns eram selecionadas para o comércio, e chegou a ser um negócio bem lucrativo muito procurado entre vários colecionadores da Europa.

Exemplo: o crânio do rei Henrique IV encontrado em 2010 num antiquário ajudou a provar pela sua ADN, que seu neto Luís XIV era realmente filho de Luís XIII, e não do seu ministro, cardeal Jules Mazarin que sempre suspeitavam ser o verdadeiro pai, mas esse é outra história.

Conclusão sem Conclusão:

Portanto, a ADN desse coração analisado, e que hoje se encontra junto aos seus pais, Luís XVI e Maria Antonieta, na Capela dos Burbons, na Basílica de Saint-Denis, tanto pode ser do verdadeiro rei Luís XVII, como pode ser de Luís José de França, como pode ser do filho bastardo (nome desconhecido), de Maria Antonieta com Hans Axel von Fersen. 

Mistério sobre o rei que nunca reinou Luís XVII:

O mistério do paradeiro de Luís XVII fez surgir mais de 100 falsos herdeiros do trono da França. Nomes como: Bruneau, Hervagault, Richemon… E o mais famoso Naundorff.

Nandorff
Luis XVII, Roi de France et de Navarre ou Karl-Wilheilm Naundorff.

Karl-Wilhelm Naundorff chegou a ser reconhecido pessoalmente por membros serviçais, e nobres da corte de Luís XVI, que escaparam da guilhotina. Morreu em 1845, em Delft, na Holanda, convencido que era o verdadeiro rei Luís XVII.

Em 1998 foram realizados exames de sua ADN comparados com as mechas de cabelo de Maria Antonieta e ficou comprovado que não tinha razão.

Seus descendentes conseguiram a realização uma nova análise em 2013 que provou justamente o contrário, pois foi confirmado por outro laboratório que Naundorff uma descendência direta Maria Antonieta.

Assim sendo hoje existe na Holanda uma família chamada “Naundorff-Boubon”.

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Imagem capa: “Capet, lève-toi !” (1838), de Émile Mascré (1813-?). Museu da Revolução francesa, em Vizille, França).

Fontes:

  • “Louis XVII “, de Hélène Becquet (E. Perrin, 2017).
  • “Louis XVII “, de Philippe Delorme (E. Pigmalion, 2000).
  • “Heurs et malheurs de Louis XVII: Arrêt sur images”, de Hélène Becquet (Ed. Snoeck, 2018).
  • “Louis XVII: la verité”, site Wikipédia na versão francesa.

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