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A Grande Odalisca é uma obra realizada em 1814 pelo pintor Jean-Auguste-Dominique Ingres (1780-1867) que retrata uma odalisca (ou uma concubina) de um harém desconhecido.
A obra pintada em Roma foi uma encomenda feita em 1813, por Carolina Murat (1782-1839), irmã do imperador Napoleão Bonaparte (1804-1814/1815) e rainha consorte de Nápoles (1808-1815). Finalizada em 1814, não foi paga e nem entregue devido do seu irmão e a volta da monarquia francesa.
Origem:
A palavra odalisca, do turco odalık, designa uma empregada que servia a um harém de mulheres, para um sultão. Ingres é um pintor por excelência que fantasiou sobre o Oriente.
Na verdade Ingres nunca foi além da Itália, porém, incansavelmente obcecado pela representação do corpo feminino e pelo erotismo que elas revelam, inventou essa personagem da odalisca, a mulher de um harém imaginário, inspirado numa literatura ocidental, em gravuras e miniaturas de origem persa.
A França com sua política de expansão territorial em países da África e do Próximo Oriente dificultava aos pintores europeus que encontrassem sua modelo oriental ideal, para posarem em obras, cujo tema era exatamente retratar o exotismo oriental e suas culturas tradicionais.
Esses pintores acabaram sendo considerados indesejáveis nesses países de cultura e religião muçulmana pois segundo eles ilustravam a imoralidade e a permissividade do ocidente.
Sem outras possibilidades acabaram optando por modelos verdadeiramente europeias travestidas de forma oriental.
Estilo:
Ingres apresentou em Paris sua Grande Odalisca, no Salão de 1819 e foi violentamente criticado durante a exposição, confirmando que os críticos realmente não entendiam do seu estilo, principalmente pelas deformações anatômicas expressivas que deu ao corpo da odalisca, como já havia feito em outra obra conhecida como: “A Banhista de Valpinçon” (1808).
Suas pinturas com tendências românticas, o contradizem de ter sido considerado um pintor neoclássico, como o seu mestre e professor Jacques-Louis David (1748-1825) pode-se até dizer que ele com a Grande Odalisca foi a origem (ou a base) para a expressividade emotiva do Romantismo, conhecido mais tarde pelas pinturas de Théodore Géricault (1791-1824) e a do jovem Eugène Delacroix (1798-1863).
Ingres é um o único pintor francês que tem obras expostas no Museu Louvre e no Museu d’Orsay.
Análise da Grande Odalisca:
Na Grande Odalisca vemos uma mulher deitada nua, vista de costas em um quarto ricamente decorado. Apesar de alguns elementos orientais como o turbante, tecidos sedosos, e uma beleza idealizada revelada por uma pele leitosa e alguns detalhes reproduzidos com precisão, o rosto da odalisca que encara o observador sem timidez (nós) é o de uma mulher bem ocidental.
A obra ainda se destaca pela economia sutil de cores. Este motivo sensual é tratado em uma harmonia fria sustentada pelas cortinas azuis. O ouro do outro lençol faz desta odalisca uma figura de sonho e mistério.
Os volumes do nu banhados por uma luz uniforme, são atenuados em um espaço sem profundidade onde Ingres demonstra seu gosto pela pintura maneirista.
Para Ingres o desenho é o mais importante. Ele privilegia as linhas alongadas e sinuosas para criar beleza e sensualidade, como podemos ver na representação do braço da esquerda que é mais curto que o da direita, e principalmente as costas da odalisca, onde exageradamente acrescentou três vértebras a mais.
Outras distorções deliberadas são percebidas ao olharmos com mais atenção para a obra, como por exemplo um dos seios colocado muito próximo as costas e a axila da direita.
Ou a perna da esquerda desenhada estranhamente mais curta com relação a pena da direita. Uma proporção fora da realidade.
O olhar perturbador da odalisca em direção ao expectador foi uma forma que Ingres encontrou para que participássemos na obra tentando adivinhar o que ela estaria pensando:
Estaria ela feliz com a invasão da sua privacidade? Estaria pedindo ajuda para ser libertada das garras de seu poderoso sultão? Ou estaria somente nos observando para ver nossas reações por sua audaciosa nudez e sensualidade?
O turbante que a jovem usa na cabeça, o leque de penas de avestruz que segura com a mão direita e o narguilé (cachimbo d’água, ainda muito usado em países do Oriente e Ásia), repousado junto ao pé direito são alguns elementos para o criar o cenário Oriental ideal para obra.
O fundo escuro da imagem simboliza o mundo obscuro do oriente, com suas proibições, tradições e conspirações, e que prendem a odalisca numa rede de intrigas, tarefas e obrigações injustas.
Atenção: “Oriente” aqui não se refere aqui ao Extremo Oriente, mas sim ao Próximo-Oriente (Turquia, Síria, Libano, Jordânia, Chipre, Israel, Palestina…) e ao Norte da África.
A Grande Odalisca foi adquirido pelo Louvre em 1899 e se encontra exposição na Ala Denon, 1° andar, sala 702 (sala Daru).
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Fonte: Louvre, Conferência no Louvre “Ingres classique et moderne” e no site L’orientalisme.