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Tragédia no casamento de Luís XVI e Maria Antonieta: 132 mortos. São poucas pessoas que ouviram falar sobre este trágico acontecimento na história francesa, que juntamente com outros que viriam acontecer contribuíram para marcar o início do fim da monarquia francesa.
Em 1756, após três séculos de rivalidades, a França e Áustria se uniram através de um tratado de paz. Para consolidar essa reaproximação diplomática, o rei Luís XV (1715-1774) e a Imperatriz Maria Teresa da Áustria (1745-1765) decidiram casar seus respectivos filhos.
Em 19 de abril de 1770, ou seja doze anos depois do acerto entre as partes, o casamento ocorreu em Viana (Áustria) por um procurador representando o Delfim da França, Luís Augusto, de 15 anos, futuro Luís XVI (1754-1793) e neto de Luís XV, com arquiduquesa da Áustria, de 14 anos, futura rainha Maria Antonieta (1755-1793) e a última filha de Maria Teresa (1745-1765), Imperatriz da Áustria, entre 1745 e 1765.
Por volta das 10h da manhã, em 16 de maio de 1770, Maria Antonieta chegou ao Palácio de Versalhes para se casar oficialmente e morar junto ao seu marido que ainda não o conhecia.
No mesmo dia 16 de maio de 1770, às 13h, vestida de um longo dourado e com um diamante do Espírito Santo encontrou-se pela primeira vez com seu marido, o delfim Luís Augusto, no “Cabinet du Roi” (Escritório do rei Luís XV).
Saíram seguidos pelo rei Luís XV e príncipes de sangue, atravessando salas repletos de pessoas até a Capela Real do Palácio. Onde se ajoelharam cercados pela família real, em frente ao altar para o ofício religioso realizado pelo Arcebispo de Reims, cercado pela família real.
Terminada a cerimônia, o registro de casamento foi assinado. A tarde, em seu apartamento, a nova Delfina da França, Maria Antonieta recebeu uma tradicional cesta de presentes contendo uma profusão de joias e objetos preciosos.
O jovem casal comparecem à recepção dos embaixadores antes de irem para a iluminada Galeria dos Espelhos, onde aconteceu a festa do rei. Os fogos de artifícios que estavam planejados foram adiados devido a uma tempestade.
O dia terminou com um banquete suntuoso, servido na novíssima Opera Real.
No ritual da cerimônia de dormir, os recém-casados foram conduzidos ao quarto de Maria Antonieta e tiveram a noite abençoada pelo Arcebispo de Reims. O rei vestiu o neto Luís Augusto com uma camisa nupcial e a duquesa de Chartres, Luísa Maria Adelaide de Bourbon faz o mesmo com a Maria Antonieta. O casal se deitou em presença de toda a corte para mostrar que estavam compartilhando a mesma cama, mas a relação sexual que todos esperavam ver só vai acontecer sete anos depois.
As festividades continuaram com muita alegria nos dias seguintes com óperas, teatros, cantos, bailes de máscaras, banquetes e fogos de artifícios.
Tragédia no casamento de Luís XVI e Maria Antonieta: 132 mortos.
Para que todos pudessem desfrutar deste evento, foi decidido por Luís XV (1715-1774) que as festividades também acontecesse em Paris. Uma maneira nova de relações públicas para trazer a simpatia e amizade do povo para com os futuros rei e rainha da França.
Uma grande feira de alimentos e bebidas com músicos e artistas de rua foram instalados ao longo da Rue Royale, onde ficava o enorme canteiro de obras da futura Igreja de la Madeleine e a atual Praça da Concórdia (antiga, Praça Louis XV).
Segundo relatos a praça e as ruas circundantes estavam lotadas de centenas de milhares de parisienses que esperavam ver os fogos de artifício pela primeira vez, já que normalmente eram apenas visto pela realeza e seus convidados em Versalhes.
Por volta das horas das 19 horas, do dia 30 de maio de 1770, começaram a distribuição de pão carne e vinho para o povo em diferentes lugares da Praça e da rue Royale.
Próximo ao rio Sena, junto a atual Praça da Concordia, foi instalado um templo de madeira de arquitetura clássico grego (ordem coríntia), chamado “Temple de l’Hímen”, decorada na base por ornamentações de cachoeiras, fontes e figuras alegóricas.
No topo do edifício havia um obelisco triangular cujas faces apresentavam figuras com guirlandas de flores, e os medalhões com imagem esculpidas do casal, Luís Augusto e Maria Antonieta.
Atrás deste edifício foram colocadas as baterias de fogos de artifícios pelos pirotécnicos oficiais do rei Luís XV, os irmãos Ruggieri (expatriados italianos em Paris, desde 1739).
Às 21 horas, na Praça Louis XV houve uma nova salva de tiros da artilharia do rei e uma disparada de fogos de artifícios iluminando majestosamente os dois grandes edifícios (vazios) construídos em 1765, por Ange-Jacques Gabriel, atual Hotel le Crillon, FIA e o Museu da Marinha.
Depois de um início promissor, os fogos finais acabaram por incendiar a própria estrutura de lançamento. No início, os parisienses pensaram que fazia parte do show. Mas quando eles finalmente entenderam, a imensa multidão entrou em pânico e uma debandada se seguiu, avançando em direção à estreita Rue Royale, onde nobres em suas carruagens, dificultavam a passagem dos pedestres que tentavam escapar.
Muitas pessoas gritavam ao serem pisoteadas, enquanto outras no lado oposto, eram empurradas para o Sena e se afogavam. O número oficial de mortos foi estimado em 132, com mais centenas de feridos, mas alguns historiadores não concordam e estipulam que por volta de 1200 pessoas perderam suas vidas.
Outros historiadores têm números semelhantes. No livro: “Galignani’s New Paris Guide: Or, Stranger’s Companion Through the French Metropolis” (1839) o autor calcula o número de mortos em 3.000. Um número que se repete no livro: “Nova Enciclopédia Internacional” (1917).
Agora mesmo sendo 132 mortos, esse acidente com fogos é ainda o mais mortal de todos os tempos.
Triste final de casamento.
Luís Augusto e Maria Antonieta ficaram horrorizados com a tragédia que tirou tantas vidas. A festa que deveria ser uma reaproximação da realeza com seus súditos em um momento de grande desconfiança (os gastos extravagantes com o casamento irritaram muitos que ainda estavam sentindo os efeitos da fome durante o reinado de Luís XV) tornou-se mais um elemento para o povo os detestarem, e principalmente com a futura rainha, que tanto odiada foi levada a guilhotina durante a revolução francesa, sem defesa e sem justiça.
Obra de François Flameng (1856-1923).
De acordo com historiadores monarquistas, o jovem casal entregou imediatamente suas mesadas pessoais daquele mês ao Tenente-General da Polícia de Paris, Antoine de Sartine (1729-1801) para serem distribuídas às vítimas e suas famílias.
Os mortos foram enterrados no cemitério de La Ville-L’Evêque, uma aldeia que existia nos arredores da região da Madeleine (8° arrondissement), não muito longe da cova comum onde, ironicamente, os corpos decapitados de Maria Antonieta (1774-1793) e Luís XVI (1773-1793) seriam despejados 23 anos depois.
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Fontes:
- “La Gazette”, em 4 de junho de 1770. Jornal da época digitalizado pelo site RetroNews da Bnf.
- “le mariage du dauphin Louis et de Marie-Antoinette”, no site Château de Versailles.
- “Le mariage maudit de Louis XVI et Marie-Antoinette”, no site Plume d’Histoire.
- “Marie-Antoinette d’Autriche”, no site Wikipédia em francês.
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Bom dia Tom Pavesi. Conheço bastante sobre a vida desse casal, mas ignorava essa parte história. Até o próximo artigo, gosto muito deles. Obrigada.
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Interessante a história do casamento e tragédia …
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Eu conheço alguma coisa da história deles, mas desconhecia este fato terrível. Gosto muito dos seus artigos, são sempre bastante esclarecedores. Obrigado
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Sempre me encanto com sua narrativa!
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Adoro essas histórias parabéns por repassar conhecimento ao grupo. Se souber de filmes ou séries com histórias da realeza por favor nos informe.
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É sempre um prazer ler seus artigos. Um abraço.
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Adorei o texto! Nunca tinha ouvido falar dessa historia e da tamanha falta de sorte do casal. Obrigada!!
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Por mais que amemos a França e sua história, está s sempre nos oferecendo algo de novo. Parabéns
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Parabéns por seu Artigo instrutivo.
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Parabéns pelo artigo! Excelente!
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Excelente artigo sobre a História da França ,Paris ,seus arredores.Não deixo de ler nenhuma 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
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Alo Tom! Artigo muito bem pesquisado e narrado. Abraco Lula.
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Muito obrigada por nos presentiar com este maravilhoso texto! Adorei!
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Um relato indispensável e verdadeiro para todos aqueles que amam a história da França. Obrigado!
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Excelente matéria Tom. Recentemente li “A História Secreta de Pa ris “ e tal ocorrência, se não me engano, não é mencionada. Parabéns. Pretendo voltar a Cidade-Luz em 2022. Aí ,entrarei em contato. Abraços.
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Excelente texto, amigo.
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Não conhecia essa parte da história, realmente um mal começo do casamento de Louis e M Antoinette, dois jovens fadados a uma tão curta e trágica vida.
Obrigada por nos passar tantos conhecimentos.
Grande abraço, Regina
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Parabéns ao excelente texto do meu colega Tom Pavesi, sobre os festejos do casamento de Louis XVI e Maria Antonieta na atual Place de la Concorde, recheado de detalhes interessantes.
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Oi Miriam! Que legal que gostou, ainda mais vindo de uma super guia conferencista como você! Valeu e um braço!
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Como sempre Tom, você nos presenteando com fatos que eu não conhecia e amei ficar sabendo. Assim, graças a você, cada dia sei mais da história e cultura francesa. Muito obrigada !