As duas múmias da praça da Bastilha

As duas múmias da praça da Bastilha

Tempo de leitura: 7 minutos

As duas múmias da praça da Bastilha. Pesquisando com atenção essa história, cheguei a conclusão que existe duas versões para a lenda das duas múmias da praça da Bastilha, uma em 1801 e outra em 1827, mas nenhuma com provas concretas e detalhes significantes que justifique qual é a versão correta, somente histórias contadas por antigos historiadores e contos populares.

1801: Versão Napoleão Bonaparte.

Em 1798, o general Napoleão Bonaparte, futuro Napoleão I (1804-1814/1815) partiu em campanha na África com a pretensão de conquistar o Egito e outros países e, assim bloquear os ingleses e o acesso aos caminhos das Índias do Oriente.

Sabendo das riquezas que o Egito detinha aproveitou-se para organizar uma expedição científica como muitos sábios, historiadores, botanistas, desenhistas… E estudar os mistérios e tesouros enterrados pelas antigas dinastias faraônicas.

Durante os três anos que durou a ocupação do Egito até a 1801, ano da derrota final do general Napoleão Bonaparte vários objetos funerários, esculturas e algumas múmias conseguiram furar o bloqueio inglês no mediterrâneo e chegar intactas para serem analisadas e expostas no “Museu Central das Artes da República”, antigo Palácio do Louvre, futuro Museu Napoleão, atual Museu do Louvre.

Decomposição das múmias de Napoleão:

Devido  a longa viagem do Cairo até Paris e pela  falta de conhecimento dos responsáveis científicos que as trouxeram as múmias começaram a se decompor pela exposição da luz natural, umidade do ar, calor… Foram obrigadas a serem enterradas rapidamente nos jardins do Louvre como pessoas comuns. Não restando nenhuma para contar a história.

Segundo outros historiadores, as múmias que chegaram do Egito foram levadas para serem estudadas numa sala específica da Biblioteca Nacional e quando começaram a se decomporem foram enterradas no jardim próximo dali.

1827: Versão Carlos X.

Durante o reinado de Carlos X (1824-1830), o vice-rei do Egito, paxá Maomé Ali (1769-1849) embalado pelas descobertas científicas na Europa e conhecendo a paixão deste rei pelas antiguidades egípcias achou oportuno fazer uma aliança diplomática e militar com a França contra a ameaçadora Inglaterra.

As duas múmias da praça da Bastilha
Paxá Maomé Ali (1769-1849).

Para conquistar a simpatia de Carlos X, o paxá Maomé Ali ofereceu três presentes bem exóticos e originais:

– Uma girafa, chamada Zarafa.

– Dois obeliscos do templo de Luxor.

– E uma dezena de múmias em seus sarcófagos de granito para o Museu do Louvre.

A primeira girafa da França, Zarafa ficou muito famosa, pop-star na época pois somente no ano de 1827 recebeu mais 600 mil visitantes. Morreu em 1845 no “Jardim das Plantas”, em Paris.

Dos dois Obeliscos de Luxor oferecidos somente um chegou em Paris em 1836 já no reinado de Luis Filipe I (1830 -1848), onde foi instalada na atual praça da Concórdia.

As múmias foram recebidas em grandes pompas por Carlos X (1824-1830), em 1827, mas logo após que os sarcófagos serem abertos e expostos por alguns dias ao grande público, um cheiro horrível começou a se exalar pelas salas do Louvre.

Decomposição das múmias de Carlos X:

Devido ao forte calor da viagem e o clima úmido da França, príncipes, generais, um faraó desconhecido, e um grande sacerdote de nome “Pentamenou” começaram a se decompor rapidamente em míseros cadáveres ordinários.

Pânico geral entre os conservadores e historiadores, o rei Carlos X decepcionado com o ocorrido ordena então que todas as múmias fossem enterradas rapidamente nos jardins do Louvre, em frente da atual igreja de São Germano de Auxerre.

Segunda Revolução francesa 27, 28 e 29 de julho de 1830:

Em 1830, Carlos X descontente com o pouco poder que tinha para tomar decisões para governar o país tentou através de vários decretos a volta da monarquia absoluta, como na época do seu irmão decapitado Luís XVI (1774-1793).

Combatendo essas decisões, a pequena burguesia, sociedades secretas e o proletariado urbano se uniram contra esse rei e suas idéias proclamando assim uma segunda Revolução francesa.

A Liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix (1830)
A Liberdade guiando o povo (1830), de Eugène Delacroix (1798-1863). Museu do Louvre.

Revolução essa que ficou conhecida como as Três Gloriosas ou “Les Trois Glorieuses”, aconteceram nos dias: 27, 28 e 29 de julho de 1830, que levou a renúncia e banimento do rei Carlos X da França.

No seu lugar assumiu um primo liberal, progressista e constitucionalista, Luis Filipe I (1830-1848), descendente da casa dos Orleães (avô de Gastão de Orleães, famoso Conde d’Eu, que foi marido da princesa Isabel do Brasil).

Durante o três dias de revoltas ocorreram muitas mortes no lado dos civis combatentes e devido ao calor e falta de recursos do povo muitos corpos foram enterrados rapidamente e de qualquer jeito em vários locais de Paris, jardins de igrejas, terrenos vazios, jardins públicos, biblioteca Nacional…

Nos jardins do Louvre foram enterrados 32 patrióticos, bem próximos onde já se repousavam as famosas múmias decompostas de Napoleão Bonaparte ou de Carlos X.

No total morreram 788 pessoas do lado dos revolucionários e 163 do lado do rei e milhares de feridos somando os dois lados.

A Coluna de Julho ou “La Colonne de Juillet”.

Em 1831, com o restabelecimento da paz em Paris, Luis Filipe I comemorando o primeiro aniversário da Três Gloriosas ordenou que fosse construída no centro da praça da Bastilha uma sepultura digna para todos os mortos que lutaram bravamente nesta revolução.

A lenda duas múmias da praça da Bastilha
Praça da Bastilha e a Coluna de Julho.

Inaugurada somente 10 anos depois, uma coluna de bronze de 50 metros de altura, “la Colonne de Juillet” foi erguida e sob ela foi construída uma galeria funerária para receber os 504 heróis revolucionários que lutaram contra Carlos X que se encontravam enterrados por toda a cidade. Seus nomes estão gravados na coluna de bronze.

Luis Filipe I na mesma forma que seu primo, Carlos X, numa revolta menos violenta da população renunciou em 1848. Seu trono foi queimado em frente a coluna de julho. Fim do regime monárquico na França.

Por ordens do primeiro presidente da república, Carlos-Luís Napoleão Bonaparte (1848-1852), futuro imperador Napoleão III (1852-1870), mais 203 vítimas que lutaram para queda do rei Luís-Felipe também foram sepultados numa segunda galeria subterrânea da Coluna de Julho.

Múmias patrióticas:

Em 1940, a cripta foi aberta para uma restauração e reforma dos interiores, uma nova contagem dos mortos na galeria foi feita e para surpresa geral dois corpos a mais se juntaram ao número oficial. Passando de 504 para 506 mortos.

Historiadores  acreditam que ao transladarem os 32 corpos dos combatentes mortos em 1830 que se encontravam nos jardins do Louvre (ou na Biblioteca Nacional), duas múmias de mais de 3.000 anos foram levadas por engano para galeria da praça da Bastilha.

Galeria subterrânea sobre a Coluna de Julho, na Praça da Bastilha.

Hoje portanto, duas personalidades do antigo Egito recebem homenagens patrióticas como verdadeiros heróis da liberdade e da democracia francesa.

A Coluna de Julho, a Galeria subterrânea e a Praça da Bastilha que contorna o monumento após mais de 2 anos de restaurações foram abertas ao público em fevereiro de 2021.

Projeto da nova praça da Bastilha 2021.

Profundamente remodelada, mais vegetal, menos voltado para o automóvel, o novo local também deve permitir destacar melhor o patrimônio e todo o seu entorno.

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Fonte:

  • “La place de la Bastille fait peau neuve“, no site: www.paris.fr.
  • “Place de la Bastille”, no site Wikipédia versão francesa.
  • “Colonne de Juillet”, no site  www.luminous-lint.com.

2 Comentários


  1. Super!
    J’ai envie de connaître la Colonne de Juillet.
    Merci, Pavesi

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  2. Adorei essa história! Num retorno à Paris quero conhecer esta Coluna de Julho e suas galerias subterrâneas.

    Responder

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