O roubo da Mona Lisa no Louvre

O roubo da Mona Lisa no Louvre

Tempo de leitura: 9 minutos

O roubo da Mona Lisa no Louvre. A história incrível e espetacular do audacioso roubo da maior obra-prima da humanidade executado por um simples empregado do Louvre, o italiano Vicenzo Perrugia (1881-1925).

A descoberta do roubo

O incrível roubo da Mona Lisa no Louvre. Em 22 de agosto de 1911, terça-feira, 7 da manhã, hora onde Poupardin, segurança do museu começava sua ronda habitual pelas inúmeras salas do Louvre.

Chegando ao famoso “Salon Carré”, conhecido na época pela sala onde encontravam-se os quadros renascentistas de pequenos e grandes formatos, como: “Les Noces de Cana” e o “Le Repas chez Simon”, de Véronèse, Poupardin percebeu que entre eles: “L’Allégorie d’Alfonso d’Avalos”, de Ticiano (c. 1488/90-1576) e “Le mariage mystique de sainte Catherine devant saint Sébastien”, de Corregio (1489-1534) encontrava-se um espaço vazio com quatro parafusos perdidos na parede.

O roubo da Mona Lisa no Louvre
Parede onde estava exposto quadro da Mona Lisa após o roubo em 1911. Foto: rue de Archives.

Sabendo que o quadro da Mona Lisa deveria estar ali, pensou que o fotógrafo oficial do Louvre, Braun havia retirado para ser fotografado no atelier do museu, como fazia frequentemente com outras pinturas.

Não dando muita importância, continuo seu caminho tranquilamente esperando que o quadro voltasse ao seu lugar antes da abertura do museu.

Nesta época, o museu do Louvre abria às terças-feiras ao público (hoje é sempre fechado). Muitos artistas, pintores e copistas que tinham uma autorização para trabalhar pelos interiores chegavam cedo antes da abertura oficial para se instalarem em bons lugares.

Um deles, o pintor Louis Béroud (1852-1930) chegou pela enésima vez com seu cavalete e palhetas para pintar no “Salon Carré” e se surpreendeu com a falta da bela florentina, perguntando ao seu amigo guarda de segurança Poupardin onde estava a Mona Lisa: este respondeu que talvez estivesse no atelier de fotografia mas que não se preocupasse, pois logo voltaria antes da abertura do museu ao público.

Poupardin, um pouco ante da abertura, preocupado com a demora da obra voltar para sala enviou colegas para buscá-la no atelier e foi neste momento que se descobriu que realmente a tela havia desaperecido do museu.

E assim começou as buscas pela moça do sorriso misterioso.

Chegada da Polícia

Às 14 h, o prefeito de Polícia de Paris o famoso e popular Louis Lepine (1846-1833) foi chamado às pressas. Enviou imediatamente sessenta inspetores de polícia e um renomado criminalista Octave Hamard (1880-1914), saíram em busca de pistas.

Às 14h45, as portas do museu são fechadas com exceção de uma porta que ficou para filtrar a saída de todos. O motivo dado ao público foi um problema de canalização de água. Em Paris, a população ainda não sabia de nada sobre o roubo.

O museu é todo vasculhado do subsolo ao telhado, até que bem embaixo da escada da “Vitória de Samotrácia” finalmente uma pista é encontrada próxima a uma das várias saídas do Louvre – Pátio Visconti – a valiosa moldura de madeira renascentista, o vidro de proteção (novidade na época contra vandalismo) e uma impressão digital bem visível.

Como neste dia 257 funcionários estavam de serviço, todos foram interrogados e tiveram suas impressões analisadas, mas ninguém foi acusado. Um trabalho enorme de buscas que sem resultados.

O roubo vira notícia dos jornais do mundo inteiro

Dia 26 de agosto de 1911, a imprensa fica sabendo e vira matéria de primeira página em vários jornais, uma benção para muitos, como: Le Figaro, L’Humanité, Gaulois, La Revue des Deux-Mondes, pois muitos exemplares serão vendidos e esgotados rapidamente.

O jornal Le Petit Parisien de 23 de agosto de 1911 relata o roubo em duas páginas, “Le Matin“,oferece 5.000 francos aos videntes, numerólogos, cartomantes ou qualquer outra ciência oculta que for necessária para se encontrar a famosa obra.

Notícia no “Le Petit Parisien”. Publicação em 23 de agosto de 1911. Fonte: Bnf – Gallica.

A Sociedade Amigos do Louvre oferece 25.000 francos para quem a achasse. Um milionário anônimo oferece o dobro. A revista “L’Illustration” oferece 50.000 francos para aquele que levar o quadro até a editora.

Semanas depois o museu reabre ao público e uma multidão corre para ver o espaço vazio deixado pelo quadro. Alguns deixam até flores diante do espaço vazio como símbolo da perda de um ente querido, outros compram recordações e cartões postais da querida “Mona”.

Os inocentes suspeitos

A busca se alonga até o mês de setembro, quando o juiz Joseph Marie Drioux (1858-1958) manda prender um escritor de origem polonesa, Guillaume Apollinaire (1880-1918) que havia declarado que gostaria de “queimar o Louvre”.

Gery-Pieret, amigo e antigo secretário particular de Appolinaire, ladrão confesso de três estatuetas ibéricas e máscaras fenícias do museu declarou ao jornal Paris-Journal que foi ele quem furtou o quadro da Mona Lisa e que somente a devolveria em troca de 150.000 francos. E para reforçar que não estava mentindo enviou uma das três estatuetas roubadas para ao jornal.

O jovem Pablo Picasso (1881-1973) também foi interrogado e acusado de cumplicidade, pois havia comprado para estudos (influência do primitivismo),uma estatueta e uma máscara fenícia que havia sido roubada por Gery-Pieret.

O roubo também foi reivindicado pelo poeta escritor, dramaturgo italiano: Gabriele D’Annunzio (1863-1938) autor de uma peça teatral, em 1899 intitulada: “La Giocconda”.

Finalmente todos são inocentados.

O substituto da Mona Lisa

No “Salon Carré” do Louvre durante todo o tempo do desaparecimento do quadro de Leonardo da Vinci foi colocado no mesmo local, o quadro “Retrato de Baldassare Castiglione”, do pintor italiano Rafael (1483-1520), que fazia lembrar a desaparecida.

O roubo da Mona Lisa no Louvre
“Retrato de Baldassare Castiglione” (1514/1515), de Rafael (1483-1520). Louvre.

Mas 28 meses depois quando tudo parecia perdido ela foi encontrada em Florença (Itália). E seu amador de ladrão desmascarado.

O verdadeiro ladrão

O verdadeiro ladrão Vincenzo Peruggia (1881-1925), italiano que na época trabalhava como polidor e colocador de vidros em obras de pintura morava na rua de “L’hopital Saint-Louis”, a poucos metros do Louvre e havia passado a noite do 21 de agosto escondido no museu esperando o amanhecer para roubá-la tranquilamente. 

O roubo da Mona Lisa no Louvre
Vincenzo Perrugia (1881-1925). Foto tirada em 1909 por autor desconhecido.

No dia do roubo, saiu discretamente pelo pátio Visconti que dava acesso direto à rua.

A polícia chegou ir a casa dele para interrogá-lo, mas logo foi inocentado pois provou com uma falsa testemunha dizendo que no dia do roubo estava trabalhando em outro local.

O roubo da Mona Lisa no Louvre
Quarto de Vincenzo Peruggia em Paris. Foto: Roger-Viollet.

Durante estes 2 anos ficou sozinho admirando desfrutando o charme e o olhar da Mona Lisa.

O tempo foi passando e quando ninguém falava mais sobre o roubo e passando por sérias dificuldades financeiras decidiu voltar para Itália com a esperança de vender a obra para algum colecionador local. Passando a fronteira foi morar em Florença em um hotel chamado na época “Trípoli” (hoje, “La Giocanda”).

A venda fracassada

Em 10 de setembro de 1913, Perrugia propôs a um celebre antiquário florentino, Alfredo Geri, à venda da Mona Lisa por 500.000 liras e a promessa que o quadro nunca voltasse para França. Geri se fazendo interessado levou um amigo especialista em obras de artes, Poggi para analisar o quadro. Ao constatar a verecidade os dois imediadamente denunciaram Perrugia a polícia.

O roubo da Mona Lisa no Louvre
Reportagem sobre o achado da Mona Lisa, na revista “L’Antiquario”, em Florença 1913.

No hotel, o ladrão Perrugia foi detido e o quadro que se encontrava escondido embaixo da cama, protegida em uma caixa de madeira branca foi confiscado.

Quanto a Geri e Poggi nunca receberam a recompensa prometida pelos franceses. Mas devemos a eles a salvação do quadro.

Julgamento e fim da aventura

Durante o julgamento, Perrugia confessou que roubou por patriotismo. Ignorando que o quadro havia sido “adquirido” em 1519, pelo rei Francisco I (1515-1547).

Perrugia tinha plena convicção que havia sido roubado por Napoleão Bonaparte I (1804-1814/1815) e que era seu dever como cidadão italiano recuperar esse tesouro.

Foi condenado a um ano de prisão, mas depois de cumprir sete meses foi logo liberado. Uma parte da impressa e da população o considerava um herói da nação, para outros apenas um aproveitador que tentou fazer riqueza com um bem nacional.

Perrugia ainda serviu o exército na Primeira Guerra Mundial pelos Italianos. Voltando a morar na França após a guerra na cidade Sant-Maur-des-Fossés (15 km de Paris), onde abriu uma loja de pintura.

Vincenzo Peruggia e sua esposa em 1920.

O curioso que depois de tudo o que aconteceu, na maior tranquilidade levou sua esposa para visitar o Louvre e ver a obra que havia roubado e que o tornou famoso.

Faleceu aos 44 anos, em 8 de outubro de 1925.

De volta para casa

A Mona Lisa voltou a ser exposta no Louvre no dia 4 de janeiro de 1914, estrela internacional.

Hoje altamente protegida e visitada por milhares de pessoas. Esteve escondida durante a Primeira e Segunda Guerra Mundial. Saiu para se exposta em 1963, em Washington (USA) e Nova Iorque, e em 1974, para uma ser exposta em Tóquio (Japão) e Moscou (Rússia). Depois nunca mais saiu.

O roubo da Mona Lisa no Louvre
“Mona Lisa” protegida por guardas no Museu Uffizi em Florença (Itália), aguardando o retorno para o Louvre, em Paris (França). Foto: Autor desconhecido.

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Fontes:

  • Site do Museu do Louvre.
  • “Vicenzo Perugia”, no Wikipédia.
  • “That time Picasso might have stolen the Mona Lisa”, no site Messe Nessy.
  • “Comment Apollinaire et Picasso furent accusés du vol de La Joconde”, no site Vice e Meisterdrucke.

4 Comentários


  1. Tom
    Voce tem o dom de suavizar qualquer tema com muita clareza e objetividade….
    Como sempre adorei .
    Muito obrigada

    Responder

  2. Tom que maravilha de texto.
    Voce tem o dom de suavizar qualquer tema com muita clareza e objetividade….
    Como sempre adorei .
    Muito obrigada

    Responder

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