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Como guia conferencista do Museu do Louvre vejo muitos visitantes correrem para ver o quadro da Mona Lisa na grande sala “de la Joconda“, na qual está exposta para um mar de pessoas. E não percebem que na parede oposta se encontra o maior quadro do museu, seja por suas dimensões ou por sua composição, As Bodas de Caná, de Paolo Veronese (1528-1588).
Claro que tem muitos que param para ver. E olham, olham e olham… E tentam decifrar algum dos vários segredos que o pintor Veronese esconde.
É até um pouco divertido ficar por ali olhando as reações das pessoas… Uns logo desistem e se mandam para ver a “Mona“, outros ficam aguardando um guia de preferencia brasileiro para se infiltrarem no meio do grupo e pescar alguma explicação (quem nunca fez isso?). Outros, buscam sozinhos as informações através de áudio-guias, Ipads, Iphones… E outros “Ais” do mercado. Escutam, olham, escutam olham… E vão se embora sem entender muito o que viram.
Realmente não é fácil, mesmo para nos guias darmos uma explicação lógica e rápida em poucos minutos, contando a história, a importância e a simbologia que ele representa para o mundo da arte.
Escrever parece ser até um pouco mais fácil, mas não garanto que eu tenha “A” explicação ideal ou correta. Mas vou tentar passar o máximo de detalhes e informações a respeito.
Assim quando você for ou retornar um dia ao Louvre para ver a Mona Lisa não passe batido pela “As Bodas de Caná” que encontra-se em frente a ela, alias é ela quem está admirando a obra.
Então, bora lá ler esse textão são só 20 minutinhos!
O pintor Veronese:
Paolo Caliari (1528-1588), conhecido pelo nome de Veronese, por ter nascido na cidade de Verona, foi um célebre pintor italiano, representante do renascimento tardio, do movimento maneirista, e do barroco.
Fez importantes obras nas principais cidades da Itália, mas chegou no auge da sua carreira, em Veneza, sozinho ou em companhia com outros artistas ou sozinho, pinturas e afrescos em igrejas, monastérios, conventos, biblioteca Nacional de São Marcos, e principalmente no Palácio des Doges.
Temas religiosos e mitológicos, de altíssimas qualidades técnicas, e de grandes dimensões caracterizada pelo emprego de cores fortes, vibrantes, e uma luminosidade excepcional na composição; da arquitetura da cena, nos personagens, nos objetos e nas paisagens.
Suas obras, juntamente com a dos seus contemporâneos pintores, Ticiano (1485-1576) e Tintoretto (1518-1594) marcaram a história da pintura veneziana e européia, e influenciaram posteriormente diversos artistas como Velásquez, Rubens, Van Dick, Maarten de Vos, e mais tarde Delacroix, Cézanne… E outros mestres renomados.
“As Bodas de Caná” e “A Santa Ceia”.
A obra “As Bodas de Caná” foi realizado por Veronese, entre os anos de 1562-1563 para decorar uma parede do refeitório dos monges beneditinos da Basílica de São Jorge Maior, (“Basilica di San Giorgio Maggiore”), localizada na ilha “San Giorgio Maggiore”, em frente a Praça de São Marcos, em Veneza.
Foi o trabalho mais ambicioso de Veronese e o que lhe deu algumas dores de cabeça com a igreja e a inquisição Espanhola.
Pediram a ele explicações pelo fato de retratar uma cena do novo testamento, descrita no segundo evangelho de João 2:1-12, em um casamento em Caná, na Galileia, aconteceu o 1° milagre de Jesus Cristo com a transformação da água em vinho. Misturando o tema com “A Santa Ceia”, última refeição de Jesus com seus apóstolos (descrita no evangelho de Lucas 22:7-20) e cenas profanas, que se passaram em Veneza do século XVI, rica, ostentadora e perdida pelos pecados capitais ditados por Deus.
Ou seja, pintou tudo junto e misturado, o Profano e o Sagrado na mesma tela dificultando a leitura e escondendo suas reais intenções que segundo o contrato assinado com o abade superior do monastério deveria ter somente uma interpretação religiosa.
O refeitório foi escolhido para lembrar aos monges beneditinos, durantes suas refeições e orações, que aquela vida fora do monastério era maligna e condenável e que eram necessárias muitas orações para que eles, homens de fé fossem salvos dos pecados que os cercavam.
Uma forma complicada para descobrirem o que é bem para salvação da alma e assim poderem entrarem em paz no reino de Deus, e o que é pecado com suas tentações e perdições terrestres, que certamente o levariam para um mundo sinistro nas profundezas da terra.
Informações da obra:
- Nome do artista: Paolo Caliari, dito Veronese (1528-1588).
- Título: Nozze di Cana (em italiano); Les Noces de Cana (em francês); As Bodas de Caná ou O Casamento em Caná” ou A Festa do Casamento em Caná, (em português).
- Ano da obra: De junho 1562 a setembro 1563. Levou 15 meses para ser realizada.
- Tipo de Suporte: Tela em tecido de linho.
- Técnica utilizada: Óleo sobre tela.
- As cores: Veronese escolheu pigmentos coloridos, caríssimos importados do Oriente, dando preferência para o amarelo-alaranjado, vermelho vivo e lápis-lazúli para o céu e tecidos. Importante para leitura da obra e uma bela jogada de contrastes para a individualização dos personagens.
- Dimensões da obra: 6,67 m de altura por 9,94 m de largura.
- Movimento: Maneirismo.
- Gênero da pintura: Cena histórica religiosa com cena contemporânea de Veneza, do século XVI (época em que vivia Veronese).
- Local em que se encontrava: Refeitório do monastério da Basílica de São Jorge Maior, em Veneza, Itália.
- Contexto histórico: A composição do quadro, no 1° olhar nos leva a pensar que se trata de uma passagem bíblica sobre “A Santa Ceia”, pois vemos Jesus Cristo no centro de uma mesa preparada para uma refeição, a lado de sua mãe, Maria, e dois apóstolos. Mas olhando com mais atenção, e lendo o título da obra, percebemos que se trata de uma festa onde se comemora um casamento com a presença de Jesus e a Virgem Maria, mesmo não sabendo onde estão localizados os noivos. Figuras menos importantes.
- Assinatura: Obra sem assinatura, mas o autor foi reconhecido, por existir um contrato assinado entre a igreja e o pintor, detalhando as dimensões da tela, o ambiente a ser instalado, o tema a ser desenvolvido, e as condições de pagamento.
- Local de conservação: Museu do Louvre, ala Denon, 1° andar. Exposto na sala “de la Joconda” ou sala 711.
- Data de entrada no Louvre: 31 de julho de 1798.
- Forma de aquisição: Espólio de guerra.
História da aquisição.
Em 1797, Napoleão Bonaparte após sua campanha vitoriosa pelas cidades da Itália, exigiu ao assinar o acordo de paz no Tratado de Campoformio, com os derrotados Austríacos, tributos (ou pagamentos) em forma de obras de arte. Dentro das várias escolhidas, se encontrava, a tela “As Bodas de Caná”, de Veronese.
A tela, depois de cortada na horizontal em pedaços, foi enrolada e trazida em barco até Paris. Chegando somente em 31 de julho de 1798, ano em que foi exposta no “Salon Carré” do “Museu Central das Artes da República”, atual Museu do Louvre.
Em 1815, com queda do imperador, na batalha de Waterloo, a obra deveria ter sido devolvida, mas o diretor do Louvre, naquela época, Vivant Denon conseguiu conservá-lo no museu, negociando com os Austríacos, que haviam retomado possessão de Veneza, e outras cidades da Itália).
Em troca “As Bodas de Caná”, de Veronese, os venezianos receberam a obra do pintor francês, Charles Le Brun, (1619-1690), “Le Repas chez Simon le Pharisien avec Marie-Madeleine aux pieds du Christ” (1653), ou “Almoço na casa de Simão, o Fariseu, com Maria Madalena aos pés de Cristo”, que se encontra na Gallerie dell’Accademia, em Veneza (Itália).
Uma cópia fiel da obra de Veronese, As Bodas de Caná” foi instalada na mesma parede do refeitório dos monges beneditinos, no monastério da Basílica de São Jorge Maior.
Análise da Composição:
Veronese realizou uma obra monumental de aproximadamente 70 m² para ser instalada a 2,50 m do nível do chão, numa parede do refeitório dos monges beneditinos da Basílica São Jorge Maior, em Veneza.
Através da construção de perspectivas, com pontos de fugas diferenciados conseguiu criar uma imagem panorâmica, numa arquitetura grandiloquente, repleta de pequenos detalhes, rico em personagens, de cores intensas e harmoniosas, de contrastes claros e escuros, iluminação leve e indireta, e repleta de representações simbólicas, profanas e sagradas. Tudo misturado num contexto da época de Veneza, do século XVI.
Para realizar tal efeito de profundidade e grandeza Veronese definiu a linha do horizonte na base da balaustrada, um pouco acima da cabeça de Jesus Cristo, e dois pontos de fugas distintos: Um acima da cabeça de Jesus Cristo para o desenho da arquitetura dos edifícios, e um segundo ponto, bem mais alto, no centro do céu, para a construção das linhas dos mosaicos de cerâmicas do piso e da mesa dos convidados ao banquete.
Uma inteligente técnica para aumentar o campo de visão e colocar todos os 130 personagens dentro da cena, (sendo 122 pessoas + 6 cachorros + 1 gato + 1 papagaio). Contados abaixo.
Análise da cena:
O partido adotado por Veronese foi então criar um confusão mental, espiritual e visual nos expectadores, misturando duas passagens bíblicas: Uma definida no contrato: “As Boda de Caná”. E outra por uma escolha pessoal: “A Santa Ceia”, inspirado no afresco da “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci.
E para complicar um pouco mais, escolheu duas épocas diferentes, aproximadamente 1500 anos entre elas. A época de Jesus, ao 33 anos, e a de Veneza do século XVI, ano em que ele, Veronese, vivia.
Uma tela enorme, ilustrando uma cena bíblica, onde vemos a transformação da água em vinho, (o 1° milagre de Jesus), em Veneza, ao invés de Caná, na Galileia.
A cena foi divida em duas partes: Um mundo Celestial, situado atrás da balaustrada, e um mundo Terrestre, abaixo da balaustrada ou a linha do horizonte.
Mundo Celestial.
Vemos uma paisagem que toma uma grande parte da obra. Um céu azul, com nuvens brancas, pássaros sobrevoando um campanário, e edifícios, no estilo clássico grego, caracterizados por colunas, Dóricas, Jônicas e Coríntias.
Todo o lado esquerdo iluminado por uma luz indireta, que vem da esquerda.
Uma obra arquitetônica que não existia na época, em Veneza, mas desenhada para fazer uma homenagem especial, ao seu amigo e arquiteto Andrea Palladio, (construtor da Basílica de São Jorge Maior), que o indicou ao abade do monastério para realização dessa pintura.
Acima da balaustrada, um terraço com várias pessoas trabalhando. Um homem no centro aparece cortando uma carne (cordeiro), e dois outros a direita transportando uma mesa com um animal abatido.
Mundo Terrestre.
Parte Central: Situada abaixo da balaustrada, temos o lado terrestre da obra. Vemos uma mesa em forma de “U”, onde Jesus Cristo, junto a sua mãe, Maria, e vários outros convidados estão festejando um casamento num suntuoso banquete, onde o vinho acabou por alguns instantes.
Jesus Cristo: Está situado um pouco abaixo da balaustrada, no centro da mesa do banquete, e normalmente é a primeira pessoa que logo identificamos, por sua auréola brilhante e estar nos observando. Vestido com roupas simples como na sua época. Parece não muito feliz, em responder ao pedido de sua mãe, pois sabe que a partir de agora, seus poucos dias na terra estão contados.
Maria, mãe de Jesus: Da mesma foma, é facilmente identificada, pois além de estar ao lado de seu filho, também possui uma auréola, um pouco menos brilhante. Roupas simples, com um lenço preto envolta a cabeça.
Convidados: Tudo indica, que apesar dos empregados continuarem preparando uma 2° rodada de carne, (podemos ver no terraço atrás da balaustrada), todos já estão na sobremesa, pois nos pratos, só tem frutas e doces. Ricos, reis, príncipes, nobres e aristocratas, vestido na moda oriental, sentados a esquerda da tela. E simples homens da igreja,
Quanto ao casal de noivos, que deveria ser facilmente reconhecível, somente encontraremos se prestarmos bem atenção aos acontecimentos que se passam na cena. E para quem ainda não os achou, olhando para o quadro, eles são os primeiros sentados na mesa, no lado esquerdo.
E nível do solo: Definido pelo piso recortado com pedras de mármore coloridas.
Olhando para esquerda da tela, vemos um empregado mostrando ao noivo, que o vinho que estava na ânfora, acabou. Ao mesmo tempo, um pequemo empregado negro, apresenta uma taça de um novo vinho, (o vinho do milagre!).
A direita, temos o 1° milagre de Jesus. Pois vemos um serviçal encurvado segurando uma ânfora, despejando o vinho já transformado para um jarro próprio para esse uso. Um gatinho brinca com uma outra ânfora.
No centro, temos 4 músicos junto a uma mesa e dois cachorros. Veronese talvez tenha se autorretratado como um dos músicos. Uma maneira de assinar sua obra para posterioridade. Podemos vê-lo no centro da tela, vestido com uma túnica branca, tocando uma espécie de viola com arcos.
Representou também seus amigos pintores, como homenagem por terem lhe ajudado ou indicado, em outras obras, em Veneza: Jacopo Bassano, Tintoretto e Ticiano, (em vermelho, tocando um violoncelo).
Formas de interpretações: Profana e Sagrada.
Veronese foi muito criticado pela igreja inquisidora espanhola da época, pelo fato de tomar liberdades na representações de temas bíblicos, no caso; “As Bodas de Caná” e a “Santa Ceia”, misturando personagens sagrados da Bíblia, como: Jesus, Maria e discípulos, com personagens profanos, representados por homens e mulheres ricas, bem vestidos, em luxosas de ostentações, num banquete farto, num cenário grandioso, composto por arquitetura suntuosa. Tudo acentuado por divertidos bufões, anões, músicos, cachorros, gato e um papagaio.
Teologicamente, a inquisição estava preocupada com a mensagem, e os riscos que essa obra poderia passar aos homens, principalmente aos indecisos com relação a religião que deveriam seguir: A Católica Sagrada Romana ou a dos Protestantes heréticos e fanáticos ?
(Ler artigo: “O massacre da noite de São Bartolomeu”.)
A separação entre o Sagrado e Profano na obra de Veronese mostra exatamente sua liberdade na representação de um tema na qual foi obrigado a obedecer por ordens de um contratante pagador, (aqui no caso um religioso). E por outro lado, sua total liberdade de representar suas ideias, conforme suas vontades e crenças pessoais.
Como ele mesmo dizia: “Todo artista tem a mesma liberdade que poetas ou loucos”.
Em 1573 foi levado a um tribunal da Inquisição, para dar explicações sobre uma outra obra, chamada “Cena in casa di Simone (1570)” ou “Ceia na casa de Simão”, que se encontra em exposição na Pinacoteca de Brera, em Milão.
Um quadro que também misturava imagens Sagradas e Profanas. Se defendeu bem, pois continuou a pintar com liberdade (vigiada) até 1588. Ano que faleceu por pneumonia, aos 60 anos.
O profano:
Analisando a ação de alguns dos personagens fica caraterizado, alguns dos Sete pecados Capitais:
O orgulho e soberba: A noiva nos observa querendo dizer algo. Parece estar bem orgulhosa com o sucesso da festa. Um ar de superioridade com relação a nos, que a encaramos. Um mulher rica e bem apresentada, onde nada está faltando.
A avareza : Uma mesa composta com caríssimos copos de cristais (da ilha de Murano), jogo de talheres, com faca e garfo, que somente poucos possuíam. Um banquete exuberante de comida farta, num serviço contínuo, e sem hora para acabar.
A luxuria: No lado esquerdo do quadro, notamos alguns personagens extremamente pomposos, os noivos (sentados na ponta da mesa), e seus convidados, que possivelmente são: um sultão, um rei, uma rainha, e nobres aristocratas locais, todos vestidos ricamente, no estilo oriental, moda no século XVI, com tecidos de seda, turbantes, jóias, pratarias,
A inveja: Notem que as pessoas ao lado da noiva, um homem, e uma mulher, olham fixamente para suas jóias, e cochicham segredos, tramas, estratégias ou algo que pudessem roubar ou coisa parecida.. Parecem terem muita ciúmes, com relação a riqueza do casal de noivos.
A gula: Representada pela fartura da mesa, apesar de todos os convidados já estarem na sobremesa, no terraço ao alto, os empregados continuam trabalhando e preparando uma nova rodada de serviço carnes. Vemos uma sendo cortada e outra entrando a direita numa especie de prancha. Um 2° turno para os novos convidados (plebeus menos importante da cidade), que estão prestes a chegar ou para os próprios empregados da festa, pois devido ao excesso de comida comida, poderá ser distribuída, entre todos.
A ira: Representada nos olhares das pessoas, próximas os noivos, localizados entre os pilares do edifício na esquerda. Também conhecida pela cólera de alguma coisa ou de alguém.
A preguiça: Representada pela falta de vontade e lentidão em algumas pessoas do fundo a esquerda, pelo excesso de vinho tomado durante a festa.
Pecados esses, onde os monges teriam que evitar, para a salvação das suas próprias almas e des seus futuros seguidores.
O Sagrado:
Veronese esconde por várias partes do quadro símbolos religiosos anunciando o “Sacrifício de Jesus” ou a “Paixão de Cristo”, destinado por Deus para a salvação das almas e dos pecados dos homens.
Jesus nos observa fixamente, pois Ele é Superior entre todos os homens da terra. Nos olha fixamente, pois em breve quando estiver na Cruz, só olhará para o céu e Deus! Após fazer o 1° milagre, sabe que seu tempo na terra junto aos homens está se esgotando.
Maria com um semblante triste e abatida, (já sabe o destino de Jesus) usa um lenço preto envolta da cabeça (sinal de luto pela futura morte do seu Filho na cruz) e segura uma cálice de vinho, invisível, com a mão esquerda que nos leva a crer que recebeu o sinal de Deus ordenando que seu filho Jesus começasse suas obras públicas fazendo o 1° milagre transformando a água em vinho.
A taça vazia simboliza que Jesus é o remédio e a saúde. Crendo NELE e por intercessão dela, Maria, os homens serão livres dos males da terra e todos serão curados.
Outra interpretação: Maria segura o cálice de vinho da última ceia, onde Jesus Cristo anunciará ao mundo que seu sangue será derramado na Cruz, o sangue da nova e eterna aliança entre os homens e Deus todo poderoso, o criador do Céu e da Terra.
Jesus e Maria são os únicos com auréolas de santificados, enquanto dois dos seus discípulos discutem distraidamente e ainda não perceberam que o milagre já ocorreu. Por isso ainda não tem auréolas.
Na mesa, junto ao músicos, vemos uma ampulheta, uma referência simbólica sobre o tempo que resta para Jesus, desde que fez seu 1° milagre, “As Bodas de Caná até a “Santa Ceia”, seu penúltimo dia juntos aos apóstolos, antes de ser levado a cruz.
Vemos também dois cachorros, símbolo da fidelidade. Um está deitado roendo um osso, referência aos ossos dos mortos crucificados no monte Gólgota (ou monte do Calvário ou monte do Crânio). Local onde Jesus Cristo, futuramente será crucificado. E o outro olhando para um gato brincando com ânfora a esquerda.
Um gato brinca com uma ânfora de vinho decorada com uma imagem de um sátiro, referência ao deus do vinho, Baco. Símbolo dos excessos e da infidelidade dos homens causada pela embriaguez. Lembrando que Jesus será traído por Judas e negado por Pedro.
Abaixo de Jesus, atrás do músico em azul (Tintoretto?) vemos um bufão da corte em vermelho olhando para uma criança debruçada nos ombros do músico em branco (autorretrato de Veronese). Simbolicamente uma passagem da bíblia sobre a tentação de Jesus pelo diabo (= bufão da corte) enquanto jejuava na montanha no deserto da Judeia. E o anjo (= criança) protetor do Senhor que o guarda contra as tentações. Segundo o evangelho de Mateus 4:1-11, Marcos 1:12,13 e Lucas 4:1-13.
No terraço atrás da balaustrada, acima da cabeça de Jesus vemos um homem com um facão cortando uma carne, talvez um cordeiro como era o hábito nas festas de casamento na época de Jesus. Simboliza o sacrifício de Jesus, cordeiro de Deus, na Cruz, para remissão dos pecados dos homens e de todos os males.
E um pequena vaso, acima da cabeça de jesus (atrás da balaustrada) para recolher o sangue derramado, que significa que Jesus morreu e sangrou em nome de todos nos pecadores.
A direita neste mesmo terraço vemos dois homens carregando um outro cordeiro numa mesa de madeira. Simbolizando que Cristo após morrer na Cruz, seu corpo será sepultado e ressuscitado.
Bem no alto do edifício da direita vemos que uma pessoa jogou três rosas branca. Flor mística entre todas as flores do paraíso, simboliza a aliança de Nossa Senhora Maria com os mistérios da encarnação de Jesus Cristo, e sua ligação com Deus.
E por último, vemos três pombas brancas ( = a paz) sobrevoando o campanário de uma torre da igreja. O numero três representa a trindade, o ”Pai, o Filho e o Espirito Santo”. Um anúncio da bondade de Deus e da presença de Jesus Cristo na terra para salvação das almas para que todos os homens vivam em busca da paz, e encontrem a porta do Paraíso Eterno.
Amém!
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Fontes:
- Documentário no canal de TV francesa ARTE (2015). “Les Petits Secrets des grands tableaux“: Temporada 1, episódio 5: “Les Noces de Cana de Paul Véronèse“.
- “Les Noces de Cana de Véronèse“, de Jean Habert e Nathalie Volle. Ed. Réunion des Musées Nationaux (1992).
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Maravilhoso. Adorei a interpretação e viagem que fizemos nesta esplendida obra de arte. Parabéns
Teremos mais ????Espero que sim!!!!!
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Obrigado Ivanor!
Com certeza vem outras por aí. Pode aguardar, pois já tem uma no forno!
Abraços!
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Estou em estado de êxtase.
Maravilhada com esse texto PRECIOSO, com a riqueza dos detalhes, as explicações claras, um estudo e uma pesquisa de valores incalculáveis que só o Mestre Tom Pavesi poderia fazer.
Com o coração, a alma e o cérebro agradecidos por tanta grandiosidade passada por você, amigo e Mestre Tom Pavesi, parabéns é muito pouco.
Como professora de história aposentada, NUNCA li algo tão profundo, lindo e muito bem explicado.
Já li inúmeros livros e textos de história geral, do Brasil e da Arte, de autores famosos, mas NENHUM deles chega perto da perfeição desse texto.
Alguns poderão dizer ou pensar: Maria Alice está exagerando e puxando saco de Tom Pavesi.
Eu não me importo. Eu falo o que sinto.
O importante para mim, é o que me faz bem, o que me acrescenta, o que me faz ficar arrepiada de emoção, o que me encanta.
Tom Pavesi, você já tinha a minha admiração, agora ela triplicou.
Como Veronese disse: “Todo artista tem a mesma liberdade que poetas ou loucos.”
Eu não sou poeta, apesar de adorar escrever, mas louca eu sou, com a Graça de Deus. Sou uma maluca beleza, pois gente muito certinha é chata pra caramba.
Faço minha reverência a você, Tom Pavesi, com muito respeito e gratidão.
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Nossa Maria Alice! Nunca recebi tantos elogios… Obrigadão mesmo! É verdade que essa obra é cheio de surpresas e curiosidades. Difícil de comentá-la em 3 ou 4 minutos. Mas essa é uma visão pessoal por trabalhar tantos anos dentro do Louvre estudando novos detalhes cada vez que passava na frente. Além é claro de escutar colegas fazendo suas observações. Posso dizer que é um resumo de tudo que aprendi e vivi na prática.
Obrigado de coração! Abs
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Maravilhoso Tom. O que aprendi com você sobre arte não tem preço! Maravilhoso!!!!!
Elda Mulholland
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Tom incrivel
Que trabalho maravilhoso .Quanta sensibilidade e conhecimento.
Voce realmente me encanta.Eu adoro essa obra e fico triste em observar que ela quase nem e notada pelas pessoas avidas por Monalisa….
Falta de guia conferencista como voce.
Aprendi muito com este texto. Muito obrigada .ADOREI
Abs Neusa Marques
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Oi Neusa, seguidora n°1 !
Você sempre com comentários elogiosos. De novo, meu muito obrigado!
Abraços!
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Que posso dizer? Parabéns por mais esta aula mestre 🙂
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Oi Regina,
Devo a sua insistência em escrevê-lo! Obrigado 1!
E por me deixar compartilhar este e outros artigos, no seu importante e incrível grupo do Face, com seus 50.000 seguidores:
“Eu Amo Paris e a França”. Obrigado 2 !
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Amo História da Arte e a sua narrativa foi perfeita. Parabéns!