A fístula anal de Luís XIV e o hino da Inglaterra

A fístula anal de Luís XIV e o hino da Inglaterra

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A fístula anal de Luís XIV e o hino da Inglaterra. Uma versão bem francesa e certamente contestada até hoje pelos ingleses.

Em 1686, Luís XIV (48 anos), soberano mais poderoso da Europa, determinado mais do que nunca a centralizar o poder em sua própria pessoa, e nos direitos divinos foi obrigado a se inclinar a uma desagradável e incomoda dor que viria ter consequência na história da medicina, e comentários duvidosos nos tempo atuais.

Uma dor insuportável.

Já algum tempo que o rei vinha reclamando ao seu principal médico, Antoine D’ Aquin (1629-1696), uma forte e incomoda dor no ânus. Em público timidamente dissimulava dizendo que o mal que o tinha era por causa de um tumor nas pernas, mas desde do momento que foi diagnosticado como sendo uma enorme fístula anal virou assunto de muitas risadas entre nobres, cortesãs e os súditos em geral.

Retrato de Antoine d’Aquin (1629-1696). Primeiro médico o rei Luís XIV. Gallica BNF.

Os médicos tentavam resolver o problema por todos os meios disponíveis na medicina da época, remédios, pomadas, cataplasmas e outras aplicações cutâneas reputadas como sendo perigosas, mas nada serviu pois o rei continuou cada vez mais incomodado.

Anulou festas, cavalgadas e aparições em público. Aleitado ficou somente ditando ordens, e fazendo anotações pessoais. O rumor na corte era que o rei estava morrendo.

Em 18 de novembro de 1686, o principal cirurgião do rei, Charles-François Félix de Tassy (1635-1703) dividido em servilidade cortesã e deontologia profissional, depois de testar em pobres, mendigos e pacientes abandonados em hospitais e hospícios um método inovador de tratar tomou a decisão de operá-lo em profundidade ou seja fazendo uma incisão no canal do ânus com um bisturi de lâmina curva, inventado especialmente para esta intervenção cirúrgica.

A fístula anal de Luís XIV e o hino da Inglaterra
Charles-François Félix de Tassy (1635-1703). Primeiro cirurgião do rei. Fonte: BIU.

A operação realizada sem anestesia foi um sucesso. Luís XIV aguentou tudo, afrontou o mal com muita coragem e como nas batalhas foi vitorioso de uma guerra dada por muitos como perdida.

A fístula anal de Luís XIV e o hino da Inglaterra
Afastador e bisturi usados ​​pelo Dr. Félix de Tassy para a operação da fístula anal de Luís XIV, em 1686.
Museu de História da Medicina  (Universidade Paris Descartes).

No mesmo dia após um leve descanso, encontrou-se com ministros, tratou de assuntos cotidianos e diplomáticos fez uma aparição pública para acalmar e ser aclamado pela corte. Resumindo, o rei voltou mais forte, grande e soberano do que nunca.

“Grand Dieu sauve le Roi”.

Luís XIV sentindo-se cada dia melhor resolveu fazer uma visita a “Maison Royale de Saint-Louis”, a Saint-Cyr, escola recém-construída por Mansart (1646-170), para jovens meninas filhas de nobres mortos pela França.

Visita oficial de Luís XIV e Madame de Maintenon na Maison royale de Saint-Louis de Saint Cyr, (ca. 1690). Anônimo.

A religiosa fundadora, Madame de Brinon (1631-1701) sabendo da visita, e querendo agradar o rei pela terrível prova de coragem na qual passou escreveu um texto para ser declamado pelas alunas, com o título, “Grand Dieu sauve le Roi”, (Grande Rei, salve o Rei), poema que após ter agradado muito ao rei foi colocado em música pelo o compositor oficial de Versalhes, Giovanni Battista Lulli (1632-1687).

Grand Dieu, sauvez le Roi !
Grand Dieu, vengez le Roi !
Vive le Roi !
Qu’à jamais glorieux,
Louis victorieux
Voye ses ennemis
Toujours soumis

https://youtu.be/-1iA3IkljS0

Em 1714, ano em que a história da fístula anal já era passado, o compositor alemão Georg Friedrich Haëndel em passagem pela França, convidado a vir a Versalhes conseguiu uma permissão para copiar o texto e a música composta 28 anos antes.

Após tradução do francês pelo músico e poeta inglês Henry Carey (1687-1743), Haëndel (1685-1759), assinou como compositor oficial da música oferecendo em seguida ao rei da Inglaterra, Jorge I (1714-1727).

God Save the King
God save our gracious King,
Long live our noble King,
God save the King !
Send him victorious,
Happy and glorious,
Long to reign over us,
God save the King

E foi assim que graças a colaboração de uma religiosa francesa, de BRION, de um italiano, LULLI, de um inglês, CAREY, de um alemão, HAËNDEL, de um bisturi inventado pelo médico, DE TASSY e da fístula anal de Luís XIV, nasceu o hino nacional atual da Inglaterra: “God Save the Queen”.

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Imagem capa: Louis XIV.

Fontes:

  •  “Louis XIV”, de Jean-Christian Petitfils. (Ed. Tempus Perrin, 2008).
  • “Louis XIV. Homme et roi”, de Thierry Sarmant (Ed. Tallandier, 2014).
  • “Fistule anale de Louis XIV et Hymne Anglais”, no site Overblog.
  • “La fistule anale de Louis XIV : l’opération » du siècle”, no site Plumes d’histoire.
  • “Fistule anale de Louis XIV”, no Wipédia versão francesa.

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