A maldição do Diamante Azul da Coroa

A maldição do Diamante Azul da Coroa

Tempo de leitura: 14 minutos

A maldição do Diamante Azul da Coroa. A história de sorte e de azar deste diamante desaparecido que ressurgiu com o nome de diamante Hope.

Em 1663, JeanBaptiste Tavernier (1605–1689), mercador parisiense conhecido como um dos maiores aventureiros e exploradores do século XVII, preferido pelos de grandes soberanos por suas reportagens de viagens e negociações em diamantes, partiu precisamente para uma região da Índia, onde se encontrava os mais belos diamantes do mundo, em Golconda, atual estado de Andra Pradexe.

O olho de diamante da deusa “Sita”

Conta uma das várias histórias que um mineiro possivelmente explorando a mina de “Kollur” perto do rio “Krishina” encontrou um diamante de grandes dimensões, mas de uma cor fosca acinzentada e escura, muito diferente dos diamantes incolores e cristalinos nas quais estavam habituados a ver.

Catalogado pelo Sultão, como impuro e sem interesse foi vendido (ou ofertado) para o próprio mineiro que o achou. A pedra entregue a um especialista para ser polida revelou uma linda transparência e reflexos em tons azuis.

A maldição do diamante azul da coroa
Deusa da boa fortuna, “Sita”.

O proprietário feliz com o resultado e sabendo do pouco valor que poderia lhe trazer ofereceu o diamante azul a um templo local para decorar um dos olhos da estátua da deusa “Sita”. Deusa da boa fortuna, prosperidade, sucesso, felicidade, admirada e adorada por todos os mineiros da região.

Mas esta idéia não foi de agrado dos mineradores dos clãs rivais que acusaram o mineiro descobridor e o Sultão, como profanadores da deusa, visto que a cor azul do diamante era tida como maléfica, preferiam o branco, símbolo de prosperidade e o vermelho; símbolo de coragem. Resultando violentos conflitos na cidade.

O sultão indignado e procurando o restabelecimento da ordem, da paz e de seu poder, ordenou a destruição do templo, da estátua e da pedra em questão.

O viajante Tavernier

Jean-Baptiste Tavernier(1605-1689).

Antes que tudo fosse destruído, o dono do diamante sabendo das ordens do sultão conseguiu retirar a pedra do olho da da deusa SITA.

Foi neste momento que o caminho destes dois homens se cruzaram, o minerador indiano e o francês, Jean-Baptiste Tavernier, fascinado pelo o reflexo azul do diamante propõe uma troca, pelo grande diamante azul, “impuro e sem valor”, por um pequeno diamante, incolor e puro. Convencido do bom negócio, aceitou a troca.

Coleção de Luís XIV

Em 1668, de volta a Paris, Tavernier buscando vender toda sua coleção de pedras preciosas trazidas da Índia encontrou-se com o temido JeanBaptiste Colbert (1619-1683), ministro de Estado e da Economia, de Luís XIV (1643-1715) para mostrar ao rei.

Assim que Luís XIV tomou conhecimento da pedra azul, ordenou que comprassem imediatamente, na época estimada em 720.000 livres “tounois” (nome da moeda, no antigo regime, antes de se chamar “franco”, em 1795).

Tavernier cedeu ao rei por 220.000 livres tounois (preço de aproximadamente 147 quilos de ouro puro), em de um título de nobreza, avaliado em 500.000 livres tounois.

Em posse do diamante azul, o rei deixou exposto no seu tamanho original 112,5 quilates, para ser admirado por durante algum tempo, na sala das curiosidades do castelo de Saint-Germain-en-Laye.

Em 1671, Luis XIV apaixonado pela gemologia pediu a Colbert que contratasse o grande joalheiro da corte, Jean Pittan, para melhorar o brilho opaco da pedra para uma brilho mais intenso de azul, e determinou que o lapidasse na forma de um sol no centro, (sua divisa), com 7 raios irradiantes simbolizando, as 7 cordas da Lira de Apolo, os 7 planetas, os 7 dias da semana, as 7 virtudes, as 7 cores do arco-íris…

O vídeo da réplica do diamante azul

Apesar da diminuição do tamanho original do diamante, que passou a pesar 69,5 quilates, o resultado do trabalho de Pittan foi excepcional.

Pittan precisou de um ano para chegar na forma desejada, a Rosa de Paris, (“Rose de Paris”), e dois anos para lapidar suas 72 faces.

O rei Luís XIV ficou tão contente do excelente trabalho, que recompensou PITTAN pagando 10% do que havia gasto com o diamante.

Nas festas em Versalhes era comum encontrar o rei desfilando com o diamante azul preso em um broche de ouro amarrando em um lenço de pescoço, “foulard”.

O diamante azul da coroa

A maldição do diamante azul da coroa
Réplica do Diamante azul da coroa

Um diamante refletindo a imagem do rei solLuís XIV (rei Apolo), reforçando seu poder absoluto em governar o mundo. Com esta publicidade real e o nome dado por Colbert ao diamante: “le Diamant bleu de la couronne” (ou Diamante Azul da Coroa, Azul da França e Azul de Tavernier) ficou mundialmente conhecido e cobiçado.

Luis XV (1715-1774), bisneto e sucessor direto de Luis XIV, condecorado pelo rei da Espanha como “Cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro”, (Chevalier de l’Ordre de la Toison d’or), encomendou ao joalheiro, Pierre–André Jacquemin, um pendente para representar essa importante condecoração.

Símbolo de entendimento e paz entre a França e Espanha e o triunfo do Rei sobre todas as outras cortes da Europa.

A maldição do diamante azul da coroa
“Toison d’or”, de Luís XV, reconstituição em guache (2008), por Farges.

Composta com um diamante azul claro, de 33 quilates, de nome Bazu, uma espinela-rubis de 107 quilates, esculpido em forma de dragão, de nome Côte-de-Bretagne, com três safiras amarelas, mais o diamante azul da coroa (ou de Tavernier) de 69,5 quilates, um carneiro morto amarelo (safira ou outro?), com 115 diamantes brancos e outras pedras preciosas raríssimas.

Uma obra de arte extremamente rica que o rei somente a usava em ocasiões especiais.

Em 1789, com a queda da monarquia absoluta, na época representada por Luis XVI, (bisneto de Luis XV), e pela rainha Maria Antonieta, uma grande parte do tesouro real do Castelo de Versalhes e de outras propriedades da realeza foram salvos pelos revolucionários para serem mostrados ao mundo como a monarquia vivia na opulência e na riqueza.

Ficou exposto ao grande público num local conhecido na época, como “l’Hôtel du GardeMeuble de la Couronne”, (ou Guarda-Móveis da coroa), na atual praça da Concórdia, hoje, Hotel da Marinha.

O grande roubo na praça da Concórdia

Gurada-Móveis, na praça da Concórdia

Em setembro de 1792, enquanto Paris andava agitada por conflitos revolucionários e com a prisão do rei e de sua família, um bando de ladrões durante cinco dias, sem alertar os guardas, conseguiram roubar do “GuardaMóveis”, as mais belas peças do tesouro real.

Mais de 9.000 pedras preciosas, e mais de 7 toneladas de joias em ouro, que representava uma das mais importantes coleções do mundo em riqueza e preciosidades.

Considerado o maior roubo do século XVIII. Nesse grande roubo estava o pendente, Ordem do Tosão de Ouro, (l’Ordre de la Toison d’or), com o diamante azul da coroa e suas preciosidades.

A maldição do diamante azul da coroa
Espinela-rubis, em forma de dragão (Côte–de–Bretagne).

Em 1794, após intensas investigações, uma grande parte deste tesouro foi encontrado na periferia de Paris (cidade de Saint-Cloud), entre eles, o diamante SANCY (55 quilates) e o diamante REGENT (140,5 quilates) que faziam parte da coleção de Luis XV.

Em 1796, também foi achado em Londres, provavelmente em posse de um dos ladrões, Cadet Guillot, o famoso espinela-rubis, em forma de dragão (CôtedeBretagne) que fazia parte do pendente de Luís XV.

Mas as esperanças de acharem o diamante azul, e outros tesouros, se desapareceram com o tempo.

Diamante Hope

Em 19 setembro de 1812, (20 anos e 2 dias após o roubo), data em que o crime foi prescrito na França foi colocado à venda numa joalheria de Londres pelo lapidário, John Franillon e do negociante de diamantes, Daniel Eliason, um diamante azul de forma ovalada de 45,5 quilates.

A maldição do diamante azul da coroa
Diamante Hope.

Segundo alguns historiadores ele pode ter sido adquirido pelo rei da Inglaterra Jorge IV (1820-1830), e inclusive tê-lo usado no dia da sua coroação, como representado em 1821, no quadro de Thomas Lawrence.

Talvez por causa da compra duvidosa, o diamante nunca foi relacionado nos arquivos do Castelo de Windsor como fazendo parte da coleção real.

Em 1830, com a morte do rei da Inglaterra, as dívidas eram tantas que provavelmente o diamante foi vendido secretamente novamente pelo intermediário de Daniel Eliason, ao colecionador particular de joias, Henry Philip Hope (1774-1839), e a partir deste momento passou a ser chamado como “Diamante Hope”.

Descoberta de um possível roubo

Em 1858, um joalheiro francês em Paris, Charles Barbot, estudando duas gravuras de Lucien Hirtz, (1787), retro-verso, do Diamante Azul da Coroa fez uma importante declaração dizendo que o diamante Hope possivelmente era o mesmo, mas em tamanho reduzido.

A maldição do diamante azul da coroa
gravuras de Lucien Hirtz (1787).

Segundo Barbot, talvez o massacre da pedra teria sido feito para esconder sua origem e o roubo. Desta forma poderia ter sido vendida a um novo proprietário, inocente que pensava estar adquirindo uma pedra única e garantida.

Mas o tempo foi passando e Charles Barbot, sem reunir provas concretas e detalhes mais precisas confirmando essa teoria a história acabou no esquecimento.

Lorde Henry Francis Pelham Clinton Hope (1866-1941), sobrinho do banqueiro, Henry Philip Hope, herdou o diamante, extremamente apaixonado pela famosa atriz da época May Yohe (1886-1938) querendo impressioná-la e conquistá-la ofereceu o diamante Hope como presente de casamento, em 1894.

Péssimo em negócios e um estilo de vida extravagante junto a sua badalada e amada esposa, entrou em falência em 1896.

Em 1901, um tribunal londrino autorizou-o a vender o diamante para pagamento de uma parte da imensa dívida que o casal contraiu.

Comprado pelo negociante de joias, Adolph Weil (1848-1916) que o revendeu em seguida para outro negociante, Joseph Frankel.

May Yohe

Atriz May Yohe (1886-1938).

Em 1902, May Yohe, já divorciada do Lorde Henry Francis Pelham Clinton Hope tentando dar a volta por cima para trabalhar no meio artístico, escreveu um roteiro cinematográfico inventando a famosa história da “A Maldição do diamante Hope”.

Uma jogada que deu certo, pois em 1921 foi chamada por uma produção americana, para atuar fazendo o seu  próprio papel, no filme intitulado: 

“O Mistério do Diamante Hope”, (The Hope Diamond Mistery”). May Yohe morreu em 1938, na miséria.

De mão em mão

Em 1908 o diamante voltou para Paris, onde Joseph Frankel vendeu a pedra para o colecionador turco Selim Habib, que no ano seguinte revendeu ao joalheiro francês, C. H. Rosenau, que em 1910 passou para Pierre Cartier, um dos três filho de Albert Cartier (1841-1925), o fundador da “Maison Cartier“, em Paris.

Pierre Cartier (1878-1964), especialista em vendas de joias para americanos espalhou no mercado de diamantes uma história inventada e sensacional sobre a maldição do Diamante Hope.

A lenda da maldição

Evalyn Walsh McLean (1886-1947)

Em 1911, a lenda chegou ao conhecimento da milionária americana que adquiriu a pedra para provar ao mundo que com ela o diamante só lhe trairá sorte.

Evalyn, nos primeiros anos em posse do diamante Hope, tudo foi glória e riquezas, mas com o passar do tempo, uma sucessão de dramas rebateu sobre sua família, seu primeiro filho de 9 anos morreu atropelado, seu marido proprietário do Washington Post, decretou falência do jornal e a deixou por uma outra mulher, perdeu a sua filha de overdose e alguns anos depois, um neto na guerra do Vietnã.

Em 1947, morreu de pneumonia aos 60 anos.

Após sua morte o jornal “New York Post” fez uma matéria contando todo o drama da família MacLean e da possível maldição do diamante Hope, que ela sempre negou.

Harry Wintson, o rei dos diamantes

Harry Wintson (1896-1978).

Dois anos depois da sua morte, seus dois outros filhos conseguiram vender toda a coleção de jóias que dispunham, incluindo o diamante Hope para o famoso joalheiro americano, Harry Wintson (1896-1978), conhecido como o “Rei dos Diamantes”.

Em 1958, sabendo da dificuldade em revender o diamante mais a publicidade negativa que a mídia fazia, o alto valor que o diamante atingiu e a história que contavam, Harry Wintson resolveu doar o diamante ao Museu Nacional de História Natural, em Washington (EUA).

Museu Nacional de História Natural em Washington (EUA).

E foi assim que este museu recebeu sua principal atração numa inusitada e surpreendente encomenda do correio no formato: “entrega simples”, contendo o Diamante Hope.

Curiosamente, o carteiro James GTodd, que trouxe a encomenda, uma ano depois foi atropelado, ficou viúvo, e sua casa pegou fogo.

Diamante Azul e o Hope são os mesmos

Em 2007, o pesquisador em mineralogia, François Fargel e sua equipe fizerem uma grande descoberta ao inventariar as 10.000 gemas minerais da reserva do Museu de História Natural, em Paris encontraram por acaso uma réplica em chumbo puro do Diamante Azul da Coroa.

Réplica do diamante da coroa em chumbo.

Com a autorização do Instituto Smithosonia, que administra os museus americanos, o diamante Hope foi emprestado para ser comparado e analisado por computadores gráficos com esta réplica que tinha em seu tamanho original, as 7 facetas e o famoso centro conhecido como a “Rose de Paris”, do joalheiro de Luis XIVJean PITTAN.

Em pouco tempo Farges chegou a seguinte conclusão: É certeza em  99.9 % que o Diamante Hope é o mesmo que o diamante azul da coroa, desaparecido em 1792.

Maldição para uns:

Quanto a famosa maldição do diamante ficou caracterizado somente sobre alguns dos personagens relatados:

  • o Rei da Inglaterra George IV (falência);
  • Henry Francis Pelham-Clinton-Hope, (falência);
  • May YOHE, (falência), Evalyn WalshMacLean, (tragédias e falência);
  • E o carteiro, James G. Tood, (duas tragédias).

Sorte para outros:

Quanto aos outros proprietários por terem vividos longamente, não se pode dizer que tiverem azar com o diamante:

  • JeanBaptiste TAVERNIER, morreu com 84 anos com o título de Barão.
  • Luis XIV, teve um reinado prospero e morreu com 79 anos doente.
  • Luis XV, o rei bom, com 68 anos, doente.
  • Luis XVI e sua esposa, Maria Antonieta nunca usaram a pedra e não se encaixam nesta análise.
  • Pierre Cartier, morreu rico com 86 anos.
  • Harry Winston, morreu extremamente rico aos 82 anos.

E muita sorte para um museu:

A maldição do diamante azul da coroa

Agora trouxe muita sorte para o Museu Nacional de História Natural que recebe atualmente 6 milhões de visitantes por ano (antes da pandemia) para admiração do Diamante Hope ou Diamante azul da coroa, assegurado em 250 milhões de dólares, em segundo lugar em número de visitantes, depois da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, no Museu do Louvre, com seus 8 milhões de visitantes.

8 Comentários


  1. Que história espetacular ! Infelizmente não tenho nenhum dos artigos que vcê pediu.Boa Sorte!

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  2. Pode ser o diamante azul q provocou a tragédia do Titanic

    Responder

    1. Mais um para o meu arquivo. Obrigada.
      Encaminhei-lhe alguns dos arquivos solicitados.
      Abraço

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