Moulin de la Galette em Montmartre

Moulin de la Galette em Montmartre

Tempo de leitura: 11 minutos

Moulin de la Galette em Montmartre foi um famoso baile público que permitiu graças a sua reputação preservar os dois últimos moinhos da colina, sobreviventes da grande urbanização, o Moulin Blute-fin e o Moulin Radet, comprados por Nicolas-Charles Debray em 1809 e 1812, respectivamente.


O Moulin de la Galette (antigo Blute-fin) está situado no alto de uma colina, no 75 rue Lepic, em uma propriedade particular sem acesso aos turistas.

Moulin de la Galette em Montmartre
Moulin de la Galette (antigo Blute-fin) em frente a rue Tholozé. Foto: Wikimapia.

Enquanto que o Moulin Radet situado na esquina da rue Lepic com a rue Girardon. Atualmente é um restaurante de cozinha francesa.

Moulin de la Galette em Montmartre
Moulin de la Galette, antigo Moulin Radet. Rue Lepic coma a Rue Girardon. Foto: Autor desconhecido.

O nome Moulin de la Galette a partir de 1834 ficou mais conhecido como salão de dança, taberna (“guinguette“), cabaré em 1870, Music-hall em 1924, salas para programas de rádio, televisão e estúdio de radio (ORTF) até 1974. Hoje ela faz parte da lenda de Montmartre e as histórias de Paris.

Moulin Blute-fin:

O Blute-fin foi construído em 1621 por Nicolas Guignard, no lugar de um velho moinho do século XIII que caía em ruínas. Adquirido em 1709 por Nicolas Ménessier, permaneceu nesta família até 1809 quando foi vendido a Nicolas Charles Debray.

O moinho nas mãos da família Debray passou produzir uma farinha muito fina, cuja fama se estendeu por toda a capital.

Moulin de la Galette em Montmartre
Moulin Blute-fin ou Moulin de la Galette (ca.1910). Foto: Roger-Viollet.

O Blute-fin teve vários nomes: De 1622 a 1640, Moulin du Palais (Moinho do Palácio); de 1640 a 1795, Moulin Bout-à-fin; de 1795 a 1835, Blute-fin (bluter é um verbo francês que significa “peneirar a farinha para separá-la do farelo”).

Muitas vezes restaurado, preservou um mecanismo interno intacto, bem como partes originais da sua estrutura de madeira, escada e mobiliário.

Moulin de la Galette em Montmartre
Moulin Blute-fin (2010). Foto Rodney.

Localizado, no eixo da rue Tholozé, de longe podemos avistar o moinho no alto da colina. Atualmente propriedade privada não acessível ao público.

Moulin de la Galette em Montmartre
Moulin Blute-fin. Foto: Mossot.

Durante alguns anos, o Blute-Fin continuou a sua atividade original de produzir farinha de trigo, mas também foi usado como prensa de uvas para produção de vinhos de Montmartre, ou outras necessidades locais (manufaturas, construção civil…).

Nicolas-Charles Debray proprietário dos dois moinhos Blute-fin e Radet tornou-se o empreendedor mais próspero de Montmartre e um dos homens mais famosos de Paris.

Blute-fin, último moinho de Montmartre a fazer farinha foi desativado em 1884.

Moulin Radet:

Segundo a família Debray, o primeiro Moulin Radet foi construído em 1268, na colina Saint Roch, em frente a Porte Saint-Honoré a oeste de Paris e foi removido durante o nivelamento desta colina em 1636 por ocasião de grandes obras de urbanização realizadas durante o reinado de Luís XIII (1610-1643).

O moleiro proprietário François Chapon o transferiu para Montmartre instalou-o na esquina da rue de l’Abreuvoir com a Chemin des Brouillards (atual rue Girardon). Ficou conhecido como Moinho Chapon.

Conforme o vilarejo de Montmartre crescia com números de habitantes, as ruas se modificavam, e o moinho mudava de lugar. Em 1717, mudou-se para um outro local, as ruas Norvins, Girardon e de l’Abreuvoir.

Comprado por Jacques Ménessier foi totalmente restaurado por volta de 1760, tornando-se o atual Moulin Radet.

Ainda segundo a família Debray, no final do século XVIII, o Radet servia para moer o alabastro destinado a fábrica de porcelanas fundada em 1771 por Pierre Duruelle, em Clignancourt, comércio esse que tinha a proteção do irmão mais novo do rei Luís XVI (1774-1793), o Conde da Provença, futuro rei Luís XVIII (1814/1815-1824).

Em 1812, o Radet em péssimo estado de conservação foi comprado por Nicolas Charles Debray pela modesta soma de 1.200 libras. Em 1830, moía os ingredientes necessários para uma fábrica de perfumes localizada no cruzamento das ruas Norvins e Girardon.

Moulin de la Galette em Montmartre
Moinhos Blute-fin (à esquerda) e Radet (à direita), em 1840.

Foi transferido mais uma vez em 1834, saindo da rua de L’Abreuvoir para esquina das ruas Lepic e Girardon ficando mais próximo do Moulin Blute-fin.

No terreno aberto em frente ao moinho, abriu-se uma guinguette (taverna) para cursos de danças e divertimento nos fins-de semana. Cena representada por vários artistas do século XIX.

Bal du Moilin de la Galette’ (1876), por Pierre Auguste Renoir (1841-1919).

Além de vender as famosas galettes (broas caseiras feitas com trigo moído do moinho Blute-fin) acompanhadas por um vinho amargo cultivado das encostas da colinas de Montmartre.

O nome Galette e a qualidade das broas “galettes” contribuíram para reputação da casa e do novo comércio.

Após as reformas urbanas de Paris (1853-1870) realizadas pelo barão de Haussmann (1809-1890), Montmartre passou a fazer parte integrante de Paris e não mais considerada uma cidade vizinha.

Moulin de la Galette em Montmartre
Moinhos Blute-fin (à esquerda) e Radet (à direita), em 1840.

A abertura da rue Lepic permitiu um acesso mais fácil ao topo da colina, evitando os caminhos lamacentos e mal conservados e possibilitando um acesso rápido ao salão de baile do Debray.

Com a a anexação a cidade, a população aumentou drasticamente para 57.000 habitantes em 1861, grande parte por aqueles que foram expulsos das suas residências do centro de Paris.

Moulin de la Galette (1898).

Em 1870, o espaço tornou-se um Cabaré fechado, frequentando por inúmeros pintores, poetas, escritores, amantes da boemia, do álcool e dos encontros amorosos.

Inicialmente aberto somente aos domingos e feriados, mas com a grande frequência do público, entre 1900 a 1914, passou a funcionar quatro vezes por semana.

Moulin de la Galette em Montmartre
Moulin de la Galette, por de1900.

Em 1895, o “Bal Debray” ou “Bal Moulin de la Galette” passou ser chamado oficialmente Moulin de la Galette tornando-se um importante ponto de encontro de toda boemia parisiense, principalmente de pintores, artistas, poetas, escritores e um lugar divertido e festivo para reuniões entre amigos e encontros amorosos.

O sucesso da casa ficou conhecido por toda Paris retratada em inúmeras pinturas, canções e poemas, e a partir de 1895 passou ser chamada oficialmente como Moulin de la Galette.

Moulin de la Galette em Montmartre
Fila da entrada do Moulin de la Galette (1938-1939). Foto: Roger-Viollet.

Em 1923, M. Debray (herdeiro da propriedade) após fechar o antigo o antigo cabaré da rua Lepic (entrada próximo ao Moulin Blute-fin), resolveu abrir um espaço maior, na esquina da rua Girardon com a rua Lepic um grande salão de “Music-hall“, com shows de orquestras e cantores famosos.

Após doar o Moulin Radet par Prefeitura de Montmartre, e cansado de esperar pela transferência para Praça Jean-Baptiste Clément, e preocupado que a Comissão da Velha Paris (“Comité de Vieux Paris”) listasse o moinho como monumento histórico, proibindo sua demolição, tomou a decisão em 1924 de desmontá-lo e reconstruí-lo com somente algumas partes do velho moinho, instalando-o no telhado do novo comércio que estava para se abrir.

Moulin de la Galette em Montmartre
Cópia do Moinho Radet construído em 1925 no teto do edifício.
Foto: Albert Harlingue, Roger-Viollet.

Um edifício de arquitetura simples, decorada por uma falso moinho não funcional, como no atual cabaré do Moulin Rouge. Entrada principal ornada por dois mós do antigo moinho, na esquina das
ruas Lepic e Girardon.

Durante vários anos foi organizado no Moulin de la Galette a Competição Internacional de Acordeão. Em 1938, o local serviu para o primeiro Campeonato Mundial de Acordeão, vencido pelo francês, Freddy Balta (1919-2002), seguido de Yvette Horner (1922-2018) e André Lips (1921-1972).

A sala foi fechada em 1966, após ter servido por com estúdios para a ORTF (rádio e televisão francesa).

O edifício foi demolido em data desconhecida, e no seu lugar foi construído em 1978, um restaurante de gastronomia francesa decorado na sua entrada com o velho e falso moinho Radet, especial para turistas.

Moulin de la Galette em Montmartre
Restaurante atual “Le Moulin de la Galette”. Foto: Autor desconhecido.

O outro, “Moulin Blute-Fin localizado no 75-77 rue Lepic é o último moinho de Montmartre original e em estado de funcionamento.

Moulin de la Galette em Montmartre, lenda ou realidade:

A história do Moulin de la Galette em Montmartre também está envolvida por lutas patrióticas. Em 30 de março de 1814, durante o cerco de Paris pelo exército imperial russo, o vilarejo de Montmartre que se encontrava fora dos limites da cidade foi invadida. Quatro irmãos Debray, assim como o filho mais velho Nicolas-Charles (proprietário dos dois moinhos, Blute-fin e Radet), resistiram aos invasores.

Três dos irmãos foram mortos no ataque e o quarto, chamado Pierre-Charles, ao ver que seu filho Nicolas-Charles agonizava por uma golpe de lança, atirou com um canhão contra os soldados russos matando vários deles.

Enraivecidos com esta resistência, os russos conseguiram prendê-lo e macabramente desmembraram seu corpo em quatro partes e fixaram nas pás do moinho Blute-fin, como exemplo a população que continuavam lutando.

Nicolas-Charles, dado como morto, sobreviveu e fez o nome do seus dos dois moinhos, Blute-fin e Radet, a entrarem para história de Montmartre.

A tumba de Pierre-Charles Debray, encontra-se no cemitério Saint-Pierre de Montmartre, (que fiva ao lado da Basílica do Sacré-Coeur), mas com acesso somente para familiares.

Pintores que retrataram os bailes do Moulin de La Galette:

Desde o início do século XIX, vários pintores, muitos deles ainda bem desconhecidos interessaram-se pelas paisagens de Montmartre e seus moinhos. Tanto o Blute-fin quanto o Radet foram pintados com o mesmo título: Moulin de la Galette.

Fonte de inspiração principalmente para os pintores impressionistas do século XIX, apesar que pintores de outros estilos e de outros tempos também terem se servido do mesmo tema. Alguns deles são:

Eugène Cicéri (1813-1890): “Le Moulin de la Galette à Montmartre” (não datado).

Ao fundo à esquerda, vemos o Moulin Blute-fin e no centro, o Moulin Radet.

“Le Moulin de la Galette à Montmartre” (século XIX), de Eugène Cicéri (1813-1890). Museu Carnavalet, em Paris.

Pierre Auguste Renoir (1841-1919): “Bal du Moulin de la Galette” (1876). Foi o artista quem imortaliza a famosa guinguette do Moinho. Foi exibida pela primeira vez no “Salon” de Paris em 1877, na exposição dos impressionistas.

Renoir captou com esse tema, a atmosfera alegre desta popular dança que havia virado moda em Montamatre, representado pelo trajes e costumes da “Belle Époque” (1870-1914) de Paris. Um período de grande inovações artísticas e econômicas.

“Bal du Moulin de la Galette” (1876), de Pierre Auguste Renoir (1841-1919). Museu d’Orsay.

Vincent van Gogh (1853-1890): “Le Moulin de La Galette” (1886).

Visitando frequentemente seu irmão Theo (1857-1891), que morava em Montmartre perto do moinho, Vincent Van Gogh pintou, em 1886, uma série de Moulin de la Galette.

“Le Moulin de La Galette” (1886), de Vincent van Gogh (1853-1890).
Neue Nationalgalerie, em Berlim (Alemanha).

Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901): “Au Bal du Moulin de la Galette” (1889). Além de fazer também ilustrações dos cartazes do bailes que aconteciam no local.

“Au Bal du Moulin de la Galette” (1889), de H. Toulouse-Lautrec (184-1901). Instituto de Arte de Chicago (EUA).

Pablo Picasso (1881-1973): “Moulin de la Galette” (1900). Foi o primeiro quadro que pintou em Paris.

“Moulin de la Galette” (1900), de Pablo Picasso (1881-1973).

Ramón Casas (1866-1933): “Au Moulin de la Galette” (1892).

“Au Moulin de la Galette”, de Ramón Casas (1866-933). Museu de Montserrat (Espanha).

Maurice Utrillo (1883-1955): “Le Moulin de la Galette et Sacré-Couer” (1922) e “Moulin de la Galette sob a neve” (1923). Pintor nativo e morador de Montmartre pintou o moinho mais de 150 vezes.

“Le Moulin de la Galette et Sacré-Couer” (1822), de Maurice Utrillo. Coleção particular.
“Moulin de la Galette sob a neve” (1923), de Maurice Utrillo. Coleção particular.

Raul Dufy (1877-1953): “Bal au Moulin de la Galette” (1953).

Bal au Moulin de la Galette” (1953), de Raul Dufy (1877-1953). Centro Pompidou, em Paris.

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Foto capa é do Instagram: from_warsaw_to_paris.

Fontes:

  • “Connaissance du Vieux Paris”, de Jacques Hillairet (Ed. Rivages, 1993).
  • Le guide du promeneur 18è arrondissement”, de Danielle Chadych et Dominique Leborgne.
  • “Moulin de la Galette”, no Wikipédia versão francesa.

2 Comentários


  1. Conheci Montmartre , mas enriqueci agora ,bastante mais , com esta narrativa sobre Os Moinhos !
    Muito obrigado

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  2. Excelente artigo sobre os moinhos de Montmartre que inspiraram muitos pintores famosos.

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