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Yvan Salmon ou Victor Noir como era conhecido foi um jornalista do segundo Império, nasceu 27 de julho de 1848 em Attigny, na região Vosges e morreu em Paris, em 10 de janeiro de 1870 assassinado aos 21 anos com um tiro no peito por Pierre-Napoleão Bonaparte (1815-1881), primo do imperador Napoleão III.
Nesta época, Napoleão III encontrava-se ameaçado por vários políticos democratas que rebelavam-se contra o Imperador por causa da sua política centralizadora e autoritária de administrar a França.
Iniciou-se portanto através dos jornais, revistas e panfletos uma voraz campanha de mobilização para a população lutar contra esse regime imperialista, o fim das opressões e das injustiças tomadas contra os republicanos e ao povo de maneira geral. Uma propaganda jornalística justa que buscava a liberdade, a democracia e o fim do autoritarismo do Imperador.
O homicida:
Pierre-Napoleão Bonaparte, grande agitador, turbulento filho de Luciano Bonaparte (1775-1840), irmão do famoso Napoleão Bonaparte I (1769-1821). Em 1836 foi condenado a pena de morte na Itália por assassinato de um oficial. Pena essa transformado a pedido do papa Gregório XVI, em 15 anos de prisão. E finalmente em exílio para o Estados Unidos, por causa do seu nome e do primo Napoleão III (1808-1873).
Em Nova Iorque entrou numa briga de rua e matou mais uma pessoa. Fugiu para Europa, precisamente para Daverdisse (Bélgica), onde ficou tranquilo por alguns anos.
Com a subida ao poder de Charles-Luis Napoleão Bonaparte, eleito pelo voto universal primeiro presidente da França, Pierre-Bonaparte tornou-se deputado do partido de esquerda em Paris, como representante da Córsega.
Um mandato que durou somente três anos, pois em 1851 com assembleia dos deputados destituída por causa do golpe de estado praticado pelo seu próprio primo e presidente da República conhecido agora como: Napoleão III.
Pierre-Napoleão retornou para Córsega, onde foi eleito Presidente do Conselho Geral da ilha e por onde ficou morando por alguns anos.
Em 1870 de volta a morar em Paris leu a notícia publicada no jornal corso “La Revanche”, que atacava moralmente todos membros da família Bonaparte e os miseráveis republicanos corsos que apoiavam o governo imperialista de Napoleão III, chamando-os de traidores da nação e que deveriam serem mortos.
A resposta de Pierre-Napoleão.
Pierre-Napoleão Bonaparte furioso com a notícia respondeu as ameaças e insultos através de um outro jornal corso, “l’Avenir de la Corse”, onde defendeu a honra de sua família escrevendo um artigo bem agressivo contra as calúnias deferidas.
A briga esquentou mais ainda quando o jornal satírico do continente “La Marseillaise“, também de oposição ao Segundo imperador da França, Napoleão III reforçou com artigos mais pesados e ameaçadores contra o regime, a família e a todos descendentes de Napoleão I pedindo ao povo para insurgirem e se manifestarem rapidamente nas ruas antes que fosse tarde demais.
Novas ofensas.
Pierre-Napoleão Bonaparte apesar de também ser um opositor ao regime e estar já algum tempo com relações cortadas com Napoleão III, não admitiu esses novos insultos ordenando ao então a Henri Rochefort, diretor do jornal “La Marseillaise”, que se retratasse publicamente.
Henri Rochefort, jornalista respeitado, mas também um homem violento pediu para que dois colegas da redação do jornal, Jean-Baptiste Millière et Arnould fossem até a casa de Pierre-Bonaparte no 59 rue d’Auteuil para desafiá-lo a um duelo de vida ou morte ou uma reparação financeira ao partido de esquerda.
Mas por coincidência, um outro jornalista, Pascal Grousset, correspondente do jornal corso, “La Revanche”, em Paris, ofendido pelas resposta de Pierre-Napoleão feitas no jornal “l’Avenir de la Corse”, também resolveu ir encontrá-lo acompanhado de mais três outros jornalistas, Georges Sauton, Victor Noir e Ulrich de Fonvielle para obter uma retratação escrita pela difamações feitas no violento artigo.
As versões do crime:
Em 10 de janeiro de 1870, Pascal Grousset ao chegar na casa de Pierre- Napoleão temendo que poderia haver uma briga ou uma discussão mais violenta preferiu ficar no carro com Georges Sauton aguardando por Victor Noir e Ulrich de Fonvielle que saíram para entrevista.
Segundo a versão a polícia de Pierre-Napoleão, ao abrir a porta de sua casa, pensando estar de frente aos jornalistas Jean-Baptiste Millière et Arnould entrou numa violenta discussão. Furioso e surpreso ao saber que eram outros jornalistas, Victor Noir e Ulrich de Fonvielle, dois desconhecidos e insignificantes que estavam em sua casa pegou a força a carta, que o grande (de tamanho) Victor Noir segurava e sem ler uma linha ou perguntar do que se tratava, a rasgou.
Vitor então revidou dando-lhe um soco no rosto. Pierre-Napoleão achando que o outro jornalista Ulrich de Fontvielle ao botar a mão no bolso iria sacra uma arma, num gesto de autodefesa sacou uma outra arma atirando primeiramente de uma bala no peito de Victor Noir e outras cinco vezes em vão em Ulrich.
Versão a polícia de Ulrich de Fontvielle, única testemunha da cena conta que ao chegarem na casa de Pierre–Napoleão foram mal recebidos e uma discussão logo se iniciou por causa de uma a carta que Victor Noir detinha. Pierre-Napoleão ao arrancar a carta das mãos de Victor rasgou-a em vários pedaços. Victor revidou com algumas palavras para acalmá-lo (ou foram insultos?) e acabou levando com um soco no rosto. Ao tentar reagir a essa agressão do soco Pierre–Napoleão sacou uma arma que escondia no bolso e deu-lhe um tiro no peito e outros cinco tiros em direção de Ulrich de Fontvielle, mas que não acertou nenhuma.
A sentença de cada envolvido:
Pierre-Napoleão preso na “Conciergerie” de Paris (prisão do Palácio de Justiça) mas por se tratar de um príncipe da família imperial foi rapidamente julgado pela Alta Corte de Justiça e declarado não culpado de homicídio por legítima defesa. Devendo somente pagar uma indenização de 25.000 francos pelo “acidente” a família de Victor Noir. Depois de um breve exílio forçado na Bélgica por causa da queda de Napoleão III (que não poderia mais protegê-lo) voltou para França, em 1877. Faleceu por problemas de diabete, em 8 de abril 1881, na cidade de Versalhes.
Henri Rochefort, Grossey et Fontvielle foram condenados a seis meses de prisão cada por ultraje e injúrias aos membros da família Bonaparte e ao regime imperialista de Napoleão III.
A sentença de Napoleão III que estava todo contrariado foi ter que assistir ao funeral de Victor Noir, onde num longo cortejo em uma carruagem puxados por homens (sem cavalos) atravessou uma parte de Paris acompanhado por mais de 100.000 pessoas até o cemitério familiar em Neully–sur–Seine.
E esta foi a primeira grande manifestação popular contra o governo de Napoleão III que sete meses foi banido da França.
Símbolo republicano:
Victor Noir, o obscuro e desconhecido jornalista de 21 anos, foi homenageado pela nova república como herói nacional, mártir Revolucionário, símbolo da repressão do império em busca da liberdade.
Em 1885, seu corpo foi transferido para o cemitério Père-Lachaise, famosa moradia após vida das celebridades nacionais e internacionais.
Para lembrá-lo sempre, após uma concorrência nacional, o famoso escultor Jules Dalou (1838-1902) foi o escolhido para realizar a sepultura monumento no cemitério parisiense.
Jules Dalou e sua impressionante escultura.
Em 15 de julho de 1891, Jules Dalou antigo aluno de Carpeaux, entregou uma escultura toda em bronze de um realismo impressionante, onde retrata com perfeição o exato momento que Victor Noir caiu baleado na calçada da rua.
Na construção da obra foi empregada uma técnica bem conhecida pelos escultores na época que era usar um modelo nu ressaltando suas formas musculares e depois vesti-lo com roupas bem justas.
Na escultura de Victor Noir, pois podemos vê-lo com a boca meio aberta, os braços caídos, as dobras perfeitas do casaco, o detalhe do tiro no peito, o chapéu caído na calçada e calças entreabertas. O que mais chama atenção é a proposital virilidade com bem dotada saliência sobre as calças.
Símbolo sexual e tarefas para as mulheres.
Com o passar do tempo, aquele herói, caído no esquecimento acabou sendo resgatado no século XX, por mulheres em busca do amor e fertilidade que ao verem a tal saliência o tomaram com um símbolo sexual, deixando de lado o ultrapassado símbolo nacionalista republicando.
Segundo a lenda criada em torno da escultura, as mulheres casadas e as solteiras devem realizar uma ou todas das seguintes tarefas:
- Colocar flores no chapéu.
- Beijar na boca de Victor.
- Passar as mãos nas botas ou no sexo.
- Sentar-se em qualquer parte saliente da obra: botas, queixo, nariz e o sexo.
Resultado no prazo até 1 ano.
Resultados para as mulheres casadas:
- Nunca mais terá dificuldades em engravidar.
- Plena e constante fertilidade para o resto da vida.
- Amor eterno do parceiro.
- Felicidades no casamento.
Resultados para as mulheres solteiras:
- Toda as virtudes descritas para as mulheres casadas.
- Mais um marido bom e honesto.
- Um marido 100% perfeito (existe???).
- Um marido fiel e viril.
Assim sendo, graças a essas obrigatórias tarefas para se encontrar o verdadeiro amor e a fertilidade, o bronze da escultura de Victor Noir, em várias partes se encontram brilhantes e lustrosas.
Atualmente, no local encontra-se uma proteção em volta da escultura para evitar acidentes e uma placa avisando que em caso de depredação o autor será punido.
Mais lei nenhuma impede que a superstição continue nos dias de hoje. E para quem for testar, fique de olho nos seguranças do cemitério. Boa visita!
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Muito bom texto! Adorei.
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Muito bom texto! Adorei.
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Uma historia linda, mais acho q nem em vida ele foi tão tocado como depois de morto, aff tudo isso e so blabla o cara morreu covardemente q ele tenha paz
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Acabei de ler …..fiquei com peninha do Victor tão mocinho ….
Quando eu for ao cemiterio outra vez quero ver essa escultura mas nao vou desrespeitar as leis impostas ……Tem lugares que estao gastos affe.
Adorei saber de mais uma historia tão bem pesquizada e retratada por voce .
Abs Neusa Marques